segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Meia-noite eu chego lá

Acabou o horário de verão.
Morássemos num país sério, o governo estaria levantando dados da segurança para ver se realmente os registros de criminalidade aumentaram no horário em que as pessoas saem para o trabalho, principal acusação dos opositores do horário de verão.
A sociedade civil, por seu lado, estaria também fazendo o mesmo controle.
Mas, como aqui é Brasil, deixaremos para no ano que vem recomeçar o bate-boca na base do achismo e do deve ser.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Tudo tem limites.

Novela é ficção. Em tese não teríamos que discutir as coisas que se passam nela, a não ser a qualidade do texto e da dramaturgia.
O problema é que no Brasil, não só o público confunde realidade como ficção, com movimentos de minorias fazendo grita e ministra do governo interferindo na trama, como a própria novela se arvora a discutir assuntos de interesses da sociedade.
Nada contra tratar de assuntos atuais e polêmicos, mas as novelas, especialmente as das 21 horas da Globo, lançam a polêmica, conduzem os debates e apresentam seu ponto de vista como se a verdade fosse, e nessa estratégica contam com o restante da programação da emissora que dá um ar científico à obra ficcional.
A novela Fina Estampa discute o procedimento da reprodução assistida.
O primeiro erro que vi foi um homem da alta sociedade, esclarecido, dizer que não aceitava a inseminação, porque não admitia que sua esposa tivesse filho com outro homem. Ser contra a reprodução, até alegando que a criança não teria os mesmos genes é uma coisa, reagir como se fosse adultério é inconcebível. A reação de Paulo nem deveria ser discutida, pois parte de uma ignorância que, a meu ver, nem combina com a personagem. Mas vá lá liberdade do autor.
Mas a falha recente no argumento foi mostrar a reação da população com a clínica de reprodução. Ameaças de morte à médica, uma turba furiosa invadindo a clínica, destruindo tudo. Ora, cotidianamente vemos clínicas onde pessoas morrem por erros dos profissionais sem que isso gere essa mobilização popular. Uma clínica de reprodução assistida, onde o médico além de manipular os resultados ainda estuprava as pacientes desacordadas, não foi objeto de nenhuma ameaça do tipo. Pelo contrário, durante as investigações policiais, o médico, mesmo com o registro cassado, continuava clinicando, ou seja, as pessoas continuavam indo lá. Assim, essa reação contra a clínica da novela é inverossímel.
Ficção é ficção e o autor tem toda a liberdade, respeitando as leis do ambiente ficcional. Se o autor resolveu ambientar sua novela no Rio de Janeiro de 2012, pode criar a personagem que for, mas a população do Rio de Janeiro de 2012 em sua novela deve se comportar de forma condizente a como a população do Rio de Janeiro de 2012 se comportaria.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Greve de fome.

Começou a circular no Facebok uma postagem sobre um "jovem" que estava em greve de fome na porta da Rede Globo, em protesto contra a omissão da TV em mostrar como foi o massacre em Pinheiro. Reclama a postagem que a Globo não mostrou a greve.
Em primeiro lugar, seria simplesmente absurdo querer que a Globo mostrasse qualquer coisa de um protesto contra ela, ainda mais que é um protesto justamente por ela omitir fatos. Mas, certamente, se outras emissoras mostrassem, a Globo teria que se pronunciar a respeito. Talvez as outras emissoras não tenham mostrado com medo de futuramente serem acusadas tambéms de omitir isso ou aquilo.
Mas, paranóico como sou, primeiro fui investigar esse "jovem". Não encontrei nada que demonstrasse que ele não está sendo sincero na sua manifestação, mas muda o fato saber que ele é um cineasta e que fez um curta documentário sobre o caso Pinheirinhos. Ou seja, mesmo que não seja essa a intenção dele, a greve vai ajudar a promover o vídeo.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Quem eu seria agora.

Fui assistir ao espetáculo Cabaret Stravaganza, no Espaço Satyro.
Não vou contar detalhes do que aconteceu, sob risco de estragar a surpresa de quem for futuramente ver o espetáculo, mas não posso deixar de comentar ao menos uma impressão que tive do espetáculo.
Em dado momento, foi perguntado a um espectador se ele pudesse escolher uma personagem, ali, naquele momento, para ser, quem ele escolheria.
A pergunta não me foi dirigida, mas confesso que pensei: Robson Catalunha! Qualquer um dos oito. Quem são esses oito, vocês terão que assistir ao espetáculo para conhecer, mas a questão é por que eu escolhi essa personagem pra ser.
Simplesmente porque, ao início da peça, Robson Catalunha, um deles não importa qual, me disse umas coisas que me fizeram pensar. E não importa se aquilo veio dele mesmo ou foi escrito por alguém, foi ele quem disse. Eu só conseguia pensar: como ele é jovem! Será que se eu tivesse a idade dele, pensaria assim, desse jeito?
Não adiantava lembrar como eu era aos 26 anos. Nessa época as inquietações eram outras. Eu queria saber como eu pensaria e sentiria essas questões se hoje eu tivesse 26 anos e naquele momento, a única personagem que eu conhecia que tinha 26 anos, em 2012, e que pensava sobre as amizades do mundo virtual, era Robson Catalunha. Um dos oito.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Preocupações maternas.

Minha mãe me liga para saber da greve da polícia e quando eu disse que estava em São Paulo, ela reclamou:
"Viajou pra São Paulo e nem me avisou? Como assim? E se eu morresse?"

Não entendi... "e se eu morresse?"... que diferença faria avisar ou não antes de viajar? Pensei nesses três cenários:

Primeiro:
- Mainha, eu vou viajar pra São Paulo dia 07. Retorno no dia 13.
- Não. Não vai poder ir agora, não. E se eu morrer?
- Como assim? A senhora está sentindo algo? está doente?
- Não. Estou ótima. Mas você sabe, pra morrer, basta estar viva.
- Mas se eu não posso viajar essa semana, que a senhora está bem, vou viajar quando?
- Quando eu morrer... Depois do luto, claro.

Segundo:
- Mainha, eu vou viajar pra São Paulo dia 07. Retorno no dia 13.
- Que dia? Pera aí... Tá, pode ir, mas vou ter que desmarcar.
- Desmarcar o quê?
- Eu acho que ia morrer no dia 10. Mas com você viajando, vou jogar pra outro dia. Deixa ver... semana que vem é carnaval, melhor na Semana Santa que já é feriado e todo mundo vem pra cá. Eu deixo o caruru preparado.

Terceiro:
- Mainha, eu vou viajar pra São Paulo dia 07. Retorno no dia 13.
- Certo, boa viagem. Você vai ficar onde?
- No Hotel 155.
- Tem o endereço de lá?
- Agora, não. Mas tenho o telefone.
- Não, preciso do endereço. Ou uma foto, de preferência de cima.
- Pra quê isso?
- É que se eu morrer, preciso saber onde você vai estar, porque vou aparecer pra dar umas instruções.

Jogo de Dama

Fui assistir ao show A Dama Indigna, com Cida Moreira.
É a segunda vez que vejo um show dela. No primeiro, foi onde vi pela primeira vez Márcia Castro.
Entre o primeiro e o segundo show fiz o download do seu novo cd, em um link disponibilizado por ela mesma, sob a condição de ir a dois shows. Só fui em um, mas comprei o dvd. Acho que conta.
Durante essa excelente apresentação, pensei que Cida Moreira não sabe cantar, Cida Moreira não sabe interpretar e Cida Moreira não sabe tocar piano.
Cida Moreira é uma artista. E usa o corpo, a voz, o instrumento, a palavra, o que for, para expressar essa arte de uma forma que ultrapassa o saber. É o ser dela.
Ainda que o show seja dirigido, ainda que ela esteja dando um texto, ainda que vista um figurino, a impressão que tive era que no palco estava a artista e a mulher, porque me parecem indissolúveis.
E não venham me dizer que é sempre assim.
Pude fantasiar Cida Moreira, na juventude, de macacão (sei lá porquê), à cata de um lápis, caneta, pincel, spray, papelão, badolim, qualquer coisa que pudesse usar para expressar a arte que queria sair de si. E se não encontrasse nada disso, ela usaria o rosto, as mãos, o tom de voz. Não consigo visualizar nada disso de, por exemplo, Marília Pera. Ainda que esta última pudesse ser assim. Mas pra mim, a atriz Marília Pera surge quando ela se torna atriz.
Cida Moreira no palco, ainda que seguindo um roteiro, parecia pra mim a mesma mulher capaz de fritar um ovo, pagar as contas, ralhar com os filhos, trepar, derrubar o sorvete no chão, juntar os amigos em casa para ver um filme, discutir com um amigo por qualquer bobagem e mandá-lo à merda e qualquer outra coisa que um ser humano faz, mas de um jeito que só uma artista faria.
Não consigo imaginar Célia numa fila do banco ou Alaíde Costa tirando a roupa da máquina de lavar.
De nenhum modo estou a duvidar da expressão artística dessas grandes mulheres aqui citadas, apenas que elas não me transmitem essa idéia de completude de um ser único mulher/artista que, talvez por isso, mescle tão bem música, poesia e interpretação em cada um desses atos.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Gravações na grave greve




Como eu imaginei, as gravações exibidas ontem no Jornal Nacional, revelando que Marco Prisco comandou, sim, atos de vandalismo durante a greve dos PM's, mudou o cenário das manifestações hoje.
Não havia alternativa, ou eles desocupavam a Assembléia Legislativa, ou seriam invadidos sob os aplausos do povo que, até ontem, responsabilizavam o governador por esse caos todo.
Não que o governador seja inocente, nem que a lista de culpados acabe em Marco Prisco e Benevenuto Daciolo.
Na verdade, essas gravações revelam um pouco do jogo que se desenrola fora das vistas do povo, dos trabalhadores, de quem pensa que manda alguma coisa nessa democracia, mas é usado pra lá e pra cá.
A greve não era por melhores salários na PM, como quase nunca é em todos os sindicatos, principalmente de servidores públicos. É um cabo de guerra político que utiliza uma reinvidicação justa dos trabalhadores para derrubar, manter ou levar alguém do, no ou ao poder.
Não à toa, Marco Prisco e Benevenuto Daciolo forai candidatos a deputados estaduais.
A primeira conversa de Prisco chamando policial do Rio é reveladora do que acontece. Mostra que tem pessoas de fora praticando esse terrorismo. Aí fica o jogo de empurra. O governador, que bem sabe como as coisas são feitas e não foi à toa que pediu essas gravações, não pode revelar abertamente porque ele mesmo participou desse esquema em 2001. Aí diz vagamente que esses atos são praticados pelos PM's, lançando a população contra os policiais, sendo que muitos desses não sabem do esquema e se sentem injustiçados. Os dirigentes dizem que esse pessoal que tá fazendo isso é gente se passando por PM baiano, o que, em parte é verdade. E a população, no meio, defendendo um ou outro nas redes sociais e botecos da vida, batendo boca, sem perceber que a briga deles nada tem a ver com a melhoria das condições de vida de ninguém.

Como virou regra na política, Prisco negou que nós tivéssemos ouvido o que ouvimos. Diz que a gravação está incompleta. Bom, não sei o que pode ter ali que remende o "eu vou queimar viatura, eu vou queimar duas carretas na Rio-Bahia" e o "fecha a BR aí". Além do mais, qual seria então a desculpa razoável para Prisco ter chamado "toda a tropa" para Salvador? Para manifestações pacíficas?! Então onde estão eles que a gente não viu na cidade?

Na segunda gravação, o PM carioca questiona sobre a PEC 300. Convenientemente, a Globo ou a justiça ocultou o nome dos interlocutores dos PM's nas conversas. Disse que um era um deputado, nem poderia ocultar isso pois o conteúdo da gravação deixava a entender. Mas a participação desse deputado precisa ser investigada. Alguém que lê esse blog tem o número do celular de algum deputado? Fala com ele através de telefone, email, carta, sinais de fumaça (Emília, cartões de dia dos namorados não se enquadram no tipo de correspondência a que estou me referindo)? Então esse deputado deve ter alguma ligação com a associação, precisa investigar até onde. No mínimo, ele sabia das intenções de Daciolo de estender esse movimento para o Rio e inviabilizar o carnaval da Bahia e do Rio. Aqui abro um parêntese: estou pouco preocupado com a situação dos megaempresários de trios e camarotes ou com os bicheiros das escolas de samba, mas um deputado deveria se preocupar, no mínimo, com a segurança de cidadãos e turistas que participam desse evento. Mesmo que as pessoas cancelem, acaba tendo prejuízo ou para quem pagou ou para as empresas que são legítimas e estão fazendo um serviço lícito. Fecha parêntese.

Na terceira gravação, uma mulher, também não identificada, diz que os policiais não devem negociar para que isso viabilize a greve no Rio. Ou seja, a situação dos policiais não importa. É uma questão política. Isso ocorre, em todos os sindicatos, onde uma disputa legítima vira arma nas mãos desse políticos.
Hoje circula a informação de que as duas vozes não identificadas seriam de deputados do Rio de Janeiro, um do PR e outro do PSOL. Vamos esperar para ver se essas informações se confirmam e que atitudes vão ser tomadas contra os dois.

O que sei é que nessa confusão toda, a população é que fica presa em casa, sem segurança, "priscando".




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Amanheceu, peguei a viola, botei...

Em São Paulo foi proibida a distribuição das sacolinhas plásticas no mercado.
Medida adotada em várias partes do mundo, atitude ecologicamente correta, a princípio pensaríamos que  seria vista como benéfica. Não foi.

No país do "é tudo pra favorecer o empresário-explorador-capitalista contra o pobre-proletariado-consumidor", a gritaria começou dizendo que era absurdo ter que pagar pela sacola, que se "não pode dar, não pode vender", e um monte de outras coisas. Chegou ao ponto do PROCON mandar o mercado distribuir as tais sacolas biodegradáveis que seriam vendidas.
Então vamos por partes:

1 - A sacolinha nunca foi "gratuita". Supermercado não é obra assistencial e empresário não é filantropo. Não se dá nada. Tudo que se utiliza é repassado nos preços. Na verdade, na prática, o que a lei fez foi separar o custo da sacolinha apenas para aqueles consumidores que não quisessem trazer suas embalagens de casa. A gritaria deveria ter sido, isso sim, para que o mercado tirasse de suas planilhas de custo esse valor da sacolinha, o que resultaria numa queda dos preços.

2 - A cobrança, ao contrário do que os sociólogos conspiratórios possam achar, não é para enriquecer o supermercado, mas sim para desestimular essa compra. A proposta continua sendo que as pessoas tragam suas embalagens de casa.

3 - Já ouvi argumento de que, "quem pode pagar, vai comprar a sacola, e o pobre não vai poder", e que por isso deveria ser de graça. Ou seja, acham melhor distribuir para todos e continuar poluindo, do que conter essa utilização com a cobrança. Numa analogia, eu poderia dizer que, como o rico pode pagar a multa por excesso de velocidade e o pobre, não, o justo seria abolir a multa. É isso produção?
O custo da sacola, a partir de agora, é o ônus de quem não quer ser ecológico, seja rico ou seja pobre. Esse raciocínio é utilizado em todo o planeta. As cotas de carbono existem pra isso. Países e empresas ricas compram as cotas de carbono de outros. Se não fossem as cotas, eles iriam poluir o mesmo ou até mais, sem custo. Tendo o custo para poluir, a lógica é que eles procurem meios de poluir menos.


4- A sacolinha biodegradável, que poderia ser vendida, tem um custo mais alto que aquela que seria distribuída. A idéia é que se o consumidor não quer levar suas embalagens de casa, que podem ser aproveitadas várias vezes, ele pague para levar uma outra que, pelo menos, causa menos dano do que a que era distribuída. Menos danos, mas não é o ideal. Agora, o PROCON diz que o mercado deverá distribuir essa sacola para o consumidor que não levar a embalagem "pelo tempo necessário à desagregação natural do hábito de consumo" . Então fica a questão: qual consumidor vai se dar ao trabalho de levar embalagem, sabendo que tem uma que pode ser dada? Como esse hábito vai se desagregar se, na prática, as sacolas continuarem a ser distribuídas?

Na prática, o custo que seria daquele consumidor que não levou a embalagem, e que teria de comprar, foi repassado para todos. Ou alguém acha que os supermercados vão deixar de repassar essa despesa nos preços?

Como sempre acontece nesse país, a discussão girou menos sobre a eficácia da medida e ficou mais na teoria conspiratória de que querem tirar o direito dos pobres. Na verdade a proibição de distribuição, esvaziada com a medida do PROCON, pretendia que as pessoas, independente da classe social, avaliassem o que seria mais caro: investir na compra de sacolas duráveis e reutilizáveis ou continuar a utilizar as sacolinhas do mercado, pagando por elas diretamente.

Mas não espero que o Brasil entenda qualquer coisa da lógica do capitalismo. Nossa tecla é uma só: o capitalismo é o sistema do demônio e queremos um socialismo, sem ditadura, com iPad e TV de led para todos.

E para ter argumentos contra ou a favor das sacolas, sem se levar pela questão da luta de classes, alguns sites interessantes:

http://www.sonoticias.com.br/agronoticias/mostra.php?id=49634

http://www.sacolinhasplasticas.com.br/#/o-que-voce-pode-fazer

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_255967.shtml

Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...