segunda-feira, 20 de julho de 2015

Salve, Salvador

E, de repente, parece que Salvador se tornou um grande sítio arqueológico onde cada centímetro quadrado dessa cidade tem um valor histórico incalculável e, por isso, o prefeito não pode fazer nenhuma reforma, sobre pena de estar destruindo o túmulo de Jesus Cristo que, aparentemente, está sob nossa cidade.

O antigo prefeito apresentou um projeto de reforma da orla. Ia tirar as barracas, que só deus sabe as condições de higiene ali dentro, que ocupavam parte da faixa de areia com suas cadeiras particulares e colocar uma estrutura naquilo lá. Entrou o MP no meio do processo, judiciário pra dizer que não pode e ficou aquela beleza de palhoças armengadas na praia.

O novo prefeito deu cadeiras para os barraqueiros da Barra, mas os proibiu de cobrar das pessoas. Aparentemente, as pessoas leram algo como: prefeito manda matar filhos de menos de 5 anos de barraqueiros, tal foi a gritaria contra essa proposta.

Aí a prefeitura faz reforma da Barra. Gritaria: só faz obra em bairro de rico. Aí faz reforma em Paripe. Gritaria: só faz obra pra atrapalhar a vida do pobre e pra manter o pobre no subúrbio.

Agora, a nova modinha é ser contra a reforma do Mercado do Peixe. Aparentemente, o Mercado do Peixe foi construído pelos índios que aqui habitavam antes do descobrimento e, por isso, não pode ser reformado sob pena de descaracterização histórico-sócio-cultural e perda da identidade do soteropolitano.
Parece que também, atualmente, nos finais de semana, há uma farta distribuição de feijoada, dobradinha e cerveja para crianças carentes e com a reforma, o Mercado vai passar a ser explorado por gente que vai querer, imaginem só, ganhar dinheiro vendendo seus produtos.

Nada contra a participação da sociedade em um projeto dessa magnitude que mexe tanto com um bairro, mas não posso entender esse pensamentozinho tacanho de "não pode, porque isso é intocável", "não pode porque o projeto não foi apresentado pelo meu partido, grupo, movimento social ou (bleargh) coletivo"

A primeira coisa que alegam é que a prefeitura "não ouviu a sociedade". Bom. Vamos ver se ouviu ou não ouviu.

O projeto de requalificação da orla do Rio Vermelho foi apresentado pelo prefeito ACM Neto (DEM), na manhã deste sábado (1º). O evento realizado na sede do Caballeros Santiago, na Rua da Paciência, mostrou imagens de como deverá ficar o bairro após as reformas.
O projeto é uma continuação da requalificação da orla da Barra, que passa por obras desde setembro de 2013." A tarde de 02/02/2014. 
Link para a notícia.


Então, ninguém foi "surpreendido" com o projeto agora. Alem disso  Associação dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho divulgou a seguinte nota: Link para a nota

Ou seja, a Associação foi convocada, tomou conhecimento, participou. Era pra prefeitura fazer mais o quê? Ir na casa de cada indivíduo, mãe?  Agora, não ficou a seu gosto o resultado aprovado por quem participou? Mas como é que s efaz na democracia, pai? Ou só vale quando te agradar?


Mas parece que o problema mesmo é com relação ao Mercado do Peixe. Os pobre coitados dos permissionários que lá estão não tem a certeza se continuarão. Verdade. Não tem. Sabe por quê? Por que aquilo lá é público. Não é deles. Se a prefeitura tivesse doado a eles, aí sim, eles teriam a certeza de que ficariam lá a vida toda, depois passariam para os filhos, netos, bisnetos. Mas como é público, eles pagam uma concessão para usar. Ao contrário do empresário ao lado que comprou um imóvel, reformou com seu dinheiro, investiu para comercializar num bairro turístico, paga um monte de taxa e impostos e, veja só, vende a garrafa de cerveja ao mesmo preço. Na comida, ele capricha no nome pra vender mais caro, mas a cerveja tá igual.
Acompanhar a forma como a prefeitura vai licitar as próximas concessões é justo, é fiscalização do cidadão, para evitar que o prefeito distribua concessões para apadrinhados e amigos. Mas não há qualquer compromisso do órgão público com os atuais concessionários. Eles pagam e usufruem hoje. Parou de pagar, para de usufruir, parou de usufruir, para de pagar. O que se pode fazer, aliás se deve, é dar preferência aos atuais quando empatar com novos interessados. É assim que a coisa pública deve ser gerida. Não faz sentido que um sujeito, porque ganhou uma vez uma permissão para explorar um bar numa área pública, fique lá a vida toda.
Os donos de bar do Mercado do Peixe, que são empresários, diga-se de passagem, que reclamam que pagam R$ 2.000,00 mas certamente arrecadam mais, porque senão, não fariam questão de continuar, estão fazendo um bom lobby junto com um monte de gente que acha legal protestar.

Como diria o Ultraje a Rigor:

MAMA MAMA MAMA MAMA (PAPA PAPA PAPA PAPA)

Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...