sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Meu herói, meu bandido

http://www.conjur.com.br/2011-jul-22/mudanca-paradigma-responsabilidade-industria-cigarro

Por causa de uma série de TV estava analisando essa questão de pessoas que processam a indústria do cigarro pelos males que ele causa. Ninguém repara como é contraditório que uma sociedade que avança para pedir legalização de drogas, dizendo que cada um é responsável por seus atos e que o Estado não deve intervir, quando se sente prejudicada pelo produto que ela mesma optou em consumir vai pedir ao Estado que condene o fornecedor do produto?
Onde está a maturidade das pessoas, o poder de decisão individual, sua livre escolha, tão propalados nas questões das drogas, quando se trata do prejuízo causado pelo cigarro?
Lógico que essa reflexão não é para contra-argumentar o debate sobre legalização da maconha (e das drogas em geral), uma vez que, necessariamente, as pessoas que processam a indústria do cigarro não são as mesmas que pedem a descriminação de drogas. Mas é para pensarmos se a sociedade realmente está preparada para assumir as consequências de seus atos e suas escolhas. Será que realmente a sociedade não pede um Estado mais protecionista?
Vemos isso em várias outras questões na nossa sociedade.

Eu vou comprar um carro. Lá, eles dizem que tem uma taxa de juros absurda. Eu tenho duas opções: não comprar por aquele valor ou comprar. Compro e depois entro na justiça alegando que aquela taxa está acima de minha capacidade financeira e outras firulas. E o Estado acata. Descontada toda a usura do empresário e suas ações conjuntas, estamos falando de carro e não de pão ou água. Em um país capitalista, onde o fornecedor pode colocar o preço no produto dele (excetuando os casos em que recebe incentivos do governo para isso). Onde está a maturidade desse comprador em não adquirir esse carro pro preço absurdo?

Eu estou sem emprego. Não encontro em canto nenhum. Aí pergunto a meu vizinho se não posso trabalhar em sua oficina/padaria/mercadinho/banca de frutas. Ele diz que o negócio dele é pequeno e ele não pode arcar com todas as despesas e encargos de um empregado. Eu penso que, de ficar desempregado, é melhor receber pouco e faço um acordo com ele. Eu trabalho e ele paga um pouco menos que o mínimo. E não precisa de vale-transporte pois eu tenho bicicleta, e nem de recolher INSS. É só até eu arranjar um emprego. Quando eu arrumo o emprego o que faço? Processo o patrão e, ainda que eu tenha assinado documentos por minha livre e espontânea vontade abrindo mão daqueles valores, ele tem que pagar essa dívida. Ou seja, eu me apresento para o Estado como um incapaz, sem a menor capacidade de fazer escolhas próprias, de analisar que em determinados casos isso é melhor pra mim e peço que ele me defenda de mim mesmo, da minha própria incompetência para gerir minha vida.

Essa sociedade está preparada para recusar ofertas de drogas se elas forem vendidas licitamente na esquina de casa?

Pelo direito de escolha

Dona Jacira foi matricular seu filho. Ela foi  bem cedo, de madrugada mesmo, pois queria pegar uma vaga na escola do bairro. Mas algumas pessoas tinham chegado no dia anterior. Ela só conseguiu vaga em um bairro distante e agora se preocupa com as despesas de transportes, que vão pesar no orçamento, e com a segurança do filho. 

Seu Raimundo está sentindo umas dores no abdômen. Após várias tentativas, foi finalmente atendido no posto de saúde. O médico pediu vários exames. Seu Raimundo queria fazer todos, mas pelo SUS só vai conseguir fazer uns dois e, mesmo assim, não antes de 60 dias. Enquanto isso, seu Raimundo toma chá de boldo. 

Sabe qual é o grande problema desse país? Que você não pode beber sua Skol nesse carnaval. Proteste!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Enquanto você se esforça pra ser...

No extinto programa Viva O Gordo, Francisco Milani interpretava um sujeito que fazia os pedidos mais estranhos e inusitados e, quando as pessoas se espantavam, ele se irritava e perguntava: "Estão me olhando por quê? EU SOU NORMAL"

A graça estava nessa incoerência de querer colocar e ser atendido em sua singularidade e, ao mesmo tempo, não querer que os outros não expressem sua estranheza diante de tão particular modo de ser.

Hoje, tenho quase certeza, de que esse quadro não iria ao ar. Porque aquele comportamento que era motivo de piada há alguns anos, hoje passou a ser a regra aceitável e imposta, sem que sua incoerência, a meu ver, tenha sido abolida.

Essa semana, orientava os funcionários sobre o novo sistema de senha para atendimento ao público. Dizia eu, quando fui interrompido por uma colega:

- Vocês selecionam uma das opções: Protocolo preferencial, protocolo normal, informação preferencial ou informação normal.

- Não dá pra mudar esse nome, não?

Não entendi e perguntei:

- Que nome?

- Protocolo normal e informação normal. Fica parecendo que o outro não é normal.

Na hora, a única coisa que passou pela minha cabeça foi: "não tenho tempo pra isso". E respondi:

- Mas não é normal, mesmo. O normal de um atendimento é que quem chega depois é atendido depois. O atendimento preferencial é para a pessoa que chega depois e é atendido antes daquele que já estava aqui. Se fosse um atendimento normal, o idoso, o deficiente e a gestante iriam ter que ficar esperando a vez deles e isso não é certo. Justamente por eles terem uma condição específica, o atendimento deles não é normal.

Esse politicamente correto chega a ser imbecilizante. Dizer que tem um atendimento normal e um atendimento preferencial em nenhum sentido diminui a pessoa atendida. Eu não disse que a pessoa não era normal, disse que o atendimento dela não é normal. Isso vale pra todas as coisas. 
Se alguém der uma aula normal de rapel para um deficiente físico, ele pode sofrer sérias lesões. A aula dele tem que ser adaptada, mas se vocês virem alguma entrevista vão ouvir o professor falando de todas as diferenças da aula, mas fazendo questão de afirmar que "no mais, é uma aula normal como qualquer outra". 
Não tem mais. Normal é ou não é. Não há quase normal. Se segue a norma é normal, se não segue a norma não é. Se a medição é em algo que muda a gradação, você pode dizer que está "quase normal", no sentido que os dados estão mudando em um determinado sentido. Por exemplo, a temperatura do corpo, a pressão arterial, a frequência de alunos na primeira semana de aula. Mas enquanto não alcança a norma, não está normal.

Às vezes estremeço quando ouço falar sobre acessibilidade em determinados lugares. É muito triste que um cadeirante não possa ir a todos os lugares. É dever da sociedade adaptar ao máximo os locais para que eles tenha acesso. Mas o que fazer em locais como Pelourinho ou outros locais históricos? Adaptar certos locais seria o mesmo que descaracterizá-los. Tem coisas que temos que ver que não dá.

E essa insistência do politicamente correto não é mera questão semântica. Chega a uma estupidez que tira vidas. Nos Estados Unidos, grupos negros recusam um tratamento para hipertensão arterial porque os estudos indicam que ele tem maior eficácia em negros. Excetuando as teorias conspiratórias de que seria um plano para envenenar os negros, há uma clara ação dos grupos de defesa das minorias raciais dizendo que o tratamento deve ser recusado porque ele evidencia que há diferenças entre as raças. As pesquisas mostram que na questão da hipertensão o tratamento que é dado aos brancos é pouco eficaz nos negros, em contrapartida, há um tratamento mais eficaz para eles, mas eles optam pelo outro, menos eficaz, para não parecerem diferente. E dizem isso de forma clara.

É o supra sumo da estupidez.

Mas assim segue a humanidade, não assumindo suas diferenças, mesmo que isso não signifique limitação ou inferioridade, mas querendo que ela seja respeitada e entendida.

Respeitar as diferenças, particularidades, individualidades e até limitações das pessoas, é uma obrigação, mas fingir que essas diferenças não existem é burrice.

"Ser 'normal' é o ideal dos que não têm êxito, de todos os que se encontram abaixo do nível geral da adaptação"  - Carl Jung

Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...