sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Eu que não creio

http://m.oglobo.globo.com/sociedade/religiao/testemunhas-de-jeova-retiram-filho-com-tumor-cerebral-de-hospital-ingles-fogem-para-franca-13765629?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo

Não concordo com a ideia de não receber nem fazer transfusão de sangue.
Também não sou favorável de que as crenças religiosa dos pais conduzam as vidas dos filhos.
Mas temos que parar de usar nosso preconceito contra os Testemunhas de Jeová e pensar nas coisas como elas são.

Em primeiro lugar, queremos um estado invasivo assim no seio familiar? Eu sei, eu sei, vamos falar que é uma vida de uma criança, mas vejam que do pontos vista dos pais, eles não estão fazendo mal ao filho. Eles não estão agredindo, não estão batendo, não estão espancando, eles nem estão negando o socorro médico, tanto que a criança estava no hospital. Eles estão negando, um determinado tipo de tratamento que eles consideram que é pior do que ficar sem o tratamento. E o Estado é vai que dizer que ele não pode escolher qual das duas opções?
A experiência mostra que Testemunhas de Jeová que recebem transfusão contra vontade própria ou da família sofrem problemas de rejeição na comunidade e muitos cometem  suicídio. O Estado tia que ir além de simplesmente fazer a transfusão, ele teria que adotar o menor. Aliás, muito mais coerente, já que não se pode tomar decisões esporádicas na vida de família e não arcar com as consequências: parto normal ou cesaria? Em casa ou no hospital? Escola especial ou regular? Transplante ou homeopatia? As pessoas que tomam essas decisões arcam com suas consequências, ainda que estejamos falando dos filhos delas. Mas o Estado acha que pode chegar, decidir pelos pais, e depois se afastar e não responder pelo que decidiu. Está errado. Há um abismo imenso entre pais negligentes, pais abusadores, pais violentos e pais que tomam decisões que não são as melhores. O estado vai sempre intervir? 

E se o pai decidir que o filho deve fazer futebol, mas ele prefer karatê e isso causa sofrimento pra ele? O Estado vai intervir? Tá, isso não é uma questão de vida. E se a menina sofre bullying porque usa o véu, ou o saião, ou não corta cabelo. E se ela se sente rejeitada porque não pode namorar, ir pra balada, fazer sexo como as outras adolescentes e fica depressiva e acaba tirando a vida? O Estado vai intervir para impedir que os pais as eduquem da maneira que acredita?

O outro ponto é que desprezamos a crença dos Testemunhas de Jeová, e os consideramos esquisitos, por simples arrogância. Dizemos que eles não podem tomar uma decisão dessas por mera crença religiosa, mas isso é hipocrisia. Por crença religiosa, não cientificamente provada, de que o ser surge na concepção, tem uma alma, somos contra o aborto. Para a ciência, a linha que separa células em divisão de um ser não é tão definida assim. A rigor, o que acontece no início da gestação, está ocorrendo em nosso corpo o tempo inteiro. Há vida em nossos braços, em nossa pele, em nosso cabelo. E ninguém deixa de cortar o cabelo, não é? Bom, só as crentes.
Então, quem nos garante que a crença dos Testemunhas de Jeová não está certa e que Deus não condena a transfusão e que as pessoas que recebem sangue de outras vão para o inferno? Temos o direito de fazer isso para que uma pessoa viva com essa sentença de que agora está condenada ao inferno o tempo todo? Dizer a ela que a crença dela é uma bobagem resolve? E quem nos garante que seja?

Particularmente, eu tentaria tudo ao meu alcance para convencer os pais a fazer uma transfusão, a não colocar a filha na aula de tiro, a não matricular o garoto no Colégio Militar contra a vontade. Má S será que eu tenho o direito de tomar uma decisão por eles, e depois dizer: agora se virem com o que eu decidi?

Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...