As praias do Brasil ensolaradas
O chão onde o país se elevou
A mão de Deus abençoou
Mulher que nasce aqui
Tem muito mais valor
O céu do meu Brasil tem mais estrelas
O sol do meu país mais esplendor
A mão de Deus abençoou
Em terras brasileiras
Vou plantar amor
Por dizer essas palavras, Don e Ravel foram execrados pelo patrulhamento da época, que exigiam que os artistas se expressassem conta a ditadura e conta os militares.
A música não fala nada sobre a política brasileira, não defende o regime e a exaltação ao país em nada atribui qualquer mérito ao governo, pois fala das belezas naturais do país.
Mas o discurso ideológico não é necessariamente lógico e criticava os cantores populares de falarem bem do país, ou de falarem de assuntos outros que não uma crítica ao sistema.
Esse tipo de pensamento não apenas é limitado, como hipócrita, servindo para esconder o preconceito contra determinados artistas e gêneros mais populares, em detrimento dos "cults" e queridos dos intelectuais e jovens descolados.
Qual a diferença entre o que diz a letra da música acima e a seguinte :
Moro num país tropical
Abençoado por Deus
E bonito por natureza
Em fevereiro tem carnaval
Eu tenho um fusca e um violão
Sou flamengo e tenho uma nega
Chamada Tereza
Só que Jorge Ben, esse era o nome antes dele voltar americanizado, fazia parte do grupinho, era um deles e, portando, jamais seria acusado de alienação, de colaboracionista. A diferença entre ele e Don e Ravel era a classe social do seu público majoritário. Um agradava os jovens da classe média que estavam caminhando e cantando e seguindo a canção, enquanto que os outros cantavam para as classes menos favorecidas, que sabiam apenas que os militares tinham dominado o país, ma que se ficassem quietinhos nada de mal acontecia e que quando alguém, por mais honesto que fosse, ia preso é porque alguma coisa tinha feito.
A acusação de alienação e colaboracionismo com o regime era feita para quase todos os cantores populares, os cantores de música brega, sob alegação de que suas músicas não denunciavam para o povo, nem mesmo implicitamente, as atrocidades do regime.
Como se elogiar a coisa mais linda que vem e que passa fosse alguma forma de progresso libertário.
Don e Ravel foram execrados pela patrulha ideológica, ainda que nunca tivessem feito a música a pedido de governo algum, ainda que não tivessem defendido o regime ou auxiliado denunciando algum subversivo. De outro lado, certa cantora queridinha dos intelectuais, de inegável talento, cantou em evento público promovido pelos militares e não caiu em desgraça, como aliás não deveria ter caído, sendo consagrada até hoje por sua arte, independente de quaisquer posturas políticas.