domingo, 14 de abril de 2013

Sou Rebelde Porque O Mundo Quis Assim

Muito se fala a sobre reduzir ou não a maioridade penal no Brasil e, para mim, parece estar havendo uma confusão de termos que influencia os argumentos.

Tudo que vou discorrer aqui não pretende ser um tratado de direito, sociologia ou psicologia, do que entendo pouco, mas a minha observação sobre esses conceitos. Aceito correções dos especialistas nessas áreas no que diz respeito a conceitos errados. De resto, são opinões, podem discordar à vontade.

Primeiro é preciso saber exatamente qual a finalidade em punir uma pessoa. Tem defensores, de ambos os lados, que parecem adotar o lado vingativo da pena como justificativa. "Esse mostro matou", dizem uns, "esse jovem foi levado a isso", dizem outros. Parece que a pena tem um caráter vingativo, sim, mas tem também outras funções como: corrigir o infrator, coibir que outras pessoas queiram fazer a mesma coisa, proteger a sociedade contra outros atos daquele infrator.
Apenas analisando todas essas funções podemos ver se é viável ou não aplicar penas a menores de 16, 14, 10, sei lá quantos anos, ou não.
Também não acredito que a falha do sistema em relação a um ou mais desses aspectos, não pode servir de justificativa para aumentar o leque de pessoas que não sofrerão a pena.

Já dei uma pista de que sou a favor da redução da maioridade penal. Sou. Mas não para me vingar do mostro, para que ele sofra como o outro sofreu, mas abaixo vou analisar os argumentos contrários, que vejo nas redes sociais, e explicar porque nõa os aceito.

Fruto da sociedade. O argumento de que a pessoa é fruto da sociedade, que suas necessidades o levaram a isso e, por isso, não deveria ser punido, não me convence. Ninguém duvida que o ambiente de pobreza, a necessidade de condições básicas, a convivência com a marginalidade, a exposição de uma sociedade que parece tudo ter e nada dividir, têm influência sobre as decisões que uma pessoa vai tomar na vida. E, sim, concordo que seria injusto a sociedade querer se vingar dos atos de uma pessoa, se ela mesma favoreceu que a pessoa cometesse esses atos. Mas o fato de a pessoa ficar impune, tem ajudado ela em quê? Ela se corrige com a falta da pena? As outras pessoas se inibem de praticar os mesmos atos quando aquela não é punida? A sociedade fica protegida?
Enfim, para não infringir um dos aspectos da pena, pretende-se desconsiderar outros 3 e que, em nada, ajuda o infrator. Pelo contrário, reforça nele a sensação de que pode continuar aquele ato, e até maiores, porque nada sobrevêem de errado.
Além disso, esse argumento não explica, porque a imputabilidade de menor de classe abastada? Ele teve tudo que a sociedade poderia oferecer para que fosse um cidadão "de bem": escola, alimentação, saúde... por que, se ele resolve cometer um crime, ficaria impune?
Outro aspecto que também não me convence. Se aos 17 anos não é justo punir alguém que cometeu um crime porque foi levado a essa vida, por que seria aos 18? E aos 20? Qual a idade em que o sujeito ganha o dom de se desvencilhar das amarras impostas pela vida em que foi criado? Seria errado puní-lo, por essa razão, em qualquer idade, pois ele sempre agiria em decorrência do que recebeu da sociedade.

Jogar crianças nessas cadeias, onde não se educarão, mas se tornarão marginais. Aí o problema é com o sistema prisional e não com a idéia de penalizar o infrator. Realmente, os presídios brasileiros são terríveis. Mas quem disse que as instituições de menores são diferentes? Ou as pessoas estão ingorando as recentes rebeliões em instituições de menores, com imagens iguais às rebeliões dos grandes presídios? Lá o menor também é estuprado, também é vítima de violência, também sai pior do que entrou. A única diferença é que sai mais rápido e com ficha limpa, com a idéia de que "ficou de castigo"um tempo e só. Não se incute nele a idéia de punição pelo ato praticado. Não há qualquer medo em cometer crimes, porque não há punição. A falha do sistema carcerário não tem a ver com a idade em que se comete o crime. E, novamente, argumento, se é desumano jugar ali uma pessoa de 17 anos, também o é jugar uma de 18. A idéia é tirar todos de lá? Qual a coerência?

Maturidade que vem com a idade. Concordo que pessoas de faixa etária diferentes, em tese, têm condições diferentes de avaliar determinados atos e, portanto, devem responder por eles de forma diferente. Uma criança de 10 anos que pega a arma do pai, aponta para o irmão e diz: "me dê esse biscoito, senão eu vou te matar" e depois se choca com o resultado, muito provavelmente não tem o mesmo nível de consciência de um rapaz de 17 anos que diz a um estranho na rua "me dê seu celular, senão eu vou te matar". Mas o inverso também pode acontecer. Pode, sim, ter uma criança de 10, 12 anos, com plena consciência de que matar é eliminar um outro ser porque ela atrapalha seus objetivos, saber que isso é errado e mesmo assim praticar e tentar dissimular isso. Se por um lado há um padrão sobre quando essa consciência surge, nõa há como afirmar em 100% dos casos. Mas acredito que, na sociedade de hoje, não é só aos 18 que ela surge.

Antes dos 18 é mais fácil recuperar o jovem infrator e jogá-lo com outros bandidos só piora. Não discordo disso. Mas isso nada tem a ver com ser ou não penalizado com o crime. Basta que se separem, nas cadeias, os infratores por idade. Coloquem os menores de 18 juntos em determiando local. Mais uma vez isso tem mais a ver com o sistema carcerário do que com o fato de penalizar ou não. E, repito, só teria sentido esse argumento, se o fato de soltá-los na rua tivesse algum efeito na recuperação dele. Como também não tem, a punibilidade continua fazendo sentido para os outros aspectos da pena.

Prender menores não diminui a criminalidade. Deve ser verdade. Mas soltar também não. Então esse argumento não tem valor jã que nenhuma das duas alternativas, sozinha, diminui a criminalidade.

Por fim, tudo o mais que se exige: educação, esporte, lazer para os jovens, não é excludente com a medida de penalizar o jovem infrator e, como eu já disse, há jovens que tem tudo isso e cometem crimes e, mesmo assim, a lei atual não os pune.
Se pretendem discutir um regime especial para o infrator menor de 18 anos, por sua capacidade maior de recuperação, sou a favor. Mas que isso não se confunda com imputabilidade, que cria essa imagem de "intocável" nos jovens o que é mais um componente, dentre todos os outros elencados, a jogá-lo ao crime.

domingo, 7 de abril de 2013

Quem te viu, quem TV?

Vejam só. Até pouco tempo, era preciso zapear muito nos canais abertos para se livrar de ver a banda Calypso (ou KY, como diz Tia Judith). Agora, estão implorando espaço na TV.

Banda Calypso se oferece para apresentações na TV


Joelma não ficou menos artista com suas declarações. Pelo menos, não menos do que o que era.
E ela tem, independente de ser artista, direito às suas convicções.
Mas ela sabe que suas declarações públicas têm um peso maior do que as declarações de um Djaman Barbosa.
Mídia trabalha com imagem e com associação que fazem a essa imagem.

Seria ilegal qualquer estúdio negar alugar para Joelma gravar. Seria ilegal uma casa de espetáculo negar pauta para Joelma. Isso seria discriminação. Como seria ilegal não me deixarem exercer um cargo por minhas convicções (se elas nada tivessem com o exercício do cargo).

No caso da TV é diferente. A TV não está ali pra chamar todo mundo.Ela seleciona quem vai aos programas, baseando-se na audiência que essa pessoa possa dar. Os programas podem estar com receio de se verem associados a Joelma. Acharam mais legal se verem associados a Daniela.
E por que isso? Associar-se a Joelma não agradaria aos crentes? Isso também não daria a audiência pretendida?
Afinal, os políticos também fazem o discurso dos crentes, muitos nem porque acreditam, mas para terem sua "audiência".
Talvez, os programas, assim como as empresas que patrocinariam o filme de Joelma, tenham percebido que os crentes dão audiência, mas não compram seus produtos. Para o político, tudo que precisam dos crentes é o voto. Para as empresas, é o dinheiro. E esse, as igrejas já levaram dos crentes.

E o que isso nos traz de lição?

Em primeiro lugar que políticos e grandes empresas, na sua esmagadora maioria, não agem por ideais ou convicções, mas pelo que podem ter de retorno (voto, audiência, dinheiro).

Em segundo lugar, que devemos perceber que empresas patrocinam campanhas de políticos, como patrocinam programas de TV e filmes.
E assim como deixam de patrocinar filmes e programas de TV, com medo de uma reação dos consumidores, podem deixar de patrocinar políticos.

Então poderíamos ter uma ditadura econômica, com os ricos impondo seus políticos?
Pelo contrário.
Eu já dei esse exemplo aqui: por mais que os ricos gastem em papel higiênico, eles não podem usar todo o papel que todos da classe média e baixa juntos podem usar.
Eicke Batista tem uma fortuna que não sei se minha família inteira (que é grande) movimenta por ano. Mas o desaparecimento repentino de minha família inteira abalaria mais o mercado financeiro do que o de Eicke Batista, uma vez que sumiriam, repentinamente, muitos consumidores de produtos como Dolly Guaraná, raquetes de matar mosquitos, cestinhos de desodorizadores de privada, etc.

Com esse pensamento de movimentarmos as empresas com o que queremos, teremos uma força, não de classe econômica, mas de maioria de pessoas com um mesmo pensamento, usando sua força econômica.
Pode ser que a BMW não se importe de patrocinar um político associado a causas elitistas. Mas teríamos a OAS, a Fiat, a Palmolive, preocupadas em se associar a políticos que se identificassem com a maioria da população.

Claro que, com a corrupção e o total desconhecimento da população sobre que empresa apóia quem, hoje as empresas contribuem com base nas probabilidades de o político ganhar e lhes dar o retorno em licitações fraudulentas.
Mas quem sabe se começarmos a ficar de olho, a usar os portais como Transparência Brasil para verificar a relação das empresas com os políticos, a denunciar nas redes sociais não apenas os políticos, mas também seus patrocinadores, a coisa comece a mudar.

Ao invés de falar do Senador Renan Calheiros, vamos propor um boicote à empresa Tarumã Empreendimentos Imobiliários. O Senador sempre terá votos. O voto é obrigatório e é fácil de manipular a classe pobre para obtê-lo. Mas nenhuma lei pode obrigar ninguém a comprar um imóvel do Senador, nem de seus patrocinadores.

Ao invés de atacar na ponta da corrupção, esperando um dia que um deus qualquer toque o coração dessas pessoas ou que uma fada os transforme em seres humanos de verdade, vamos atacar a fonte pagadora da corrupção.

Que Joelma nos sirva de exemplo nisso.

Quanto à Banda Calypso, só resta a mídia cantar pra ela:

Perdoa por te magoar, amor
Perdoa por te abandonar, amor
Por te fazer chorar, por te fazer sofrer

sábado, 6 de abril de 2013

Não sabe brincar, não desce pro play

Fui uma vez ao show de Rafinha Bastos, em São Paulo, influenciado por alguns trechos de seu stand up que eu tinha visto no Youtube.
Achei as piadas preconceituosas ao extremo. E olha que eu não sou de melindres com estereótipos e caricaturas, quando acho que elas partem apenas do exagero, mas acho completamente descabidas quando fazem relações forçadas entre coisas desconexas (ex.: negro-ladrão; homossexual-promíscuo; mulher de saia curta-puta) e quando a "piada" se baseia apenas em que o público lembre dessa associação e ache engraçado. Depois falo mais sobre isso.

Depois dessa decepção do show, vi Rafinha Bastos entrar no CQC, fazer uma piada que não caiu bem no gosto do público e sair de lá, entrar no SNL da Rede TV, sumir das vistas do público e sair de lá, entrar no "A Vida de Rafinha Bastos", na FOX, e sumir da minha vista.
Em todas as polêmicas em que se meteu, eu sempre concordei que ele tinha o direito de falar as asneiras que fosse, achando que mereceu a repreensão pública no caso do estupro. No caso do bebê, tenho aqui minhas opiniões, acho apenas que foi uma piada sem graça.
Mas uma coisa sempre pareceu clara para mim: o comediante não aguenta críticas ou brincadeiras. Parece aquele cara, e todo mundo conhece um, que faz gozação com a cara de todo mundo, mas se alguém fizer uma piada com ele, ele fica bravo, fecha a cara e vai embora, não sem antes fazer uma cena baixo astral.
E foi o que aconteceu nesse episódio do Hotel Mercure.
Vamos aos fatos pela ordem, para quem não acompanhou:

- Rafinha Bastos fez o seguinte trocadilho em seu twitter: "“Daniela Mercury e Fred Mercury tinham algo em comum. Ae funcionários do hotel Mercure... estamos de olho!”

- Com extrema dose de bom humor, a rede de hotéis Mercure não se inflamou, não disse que iria processar ninguém por ter seu nome associado a gays, não pediu pra justiça tirar a postagem, nada disso. Apenas respondeu:  "@rafinhabastos, Aqui respeitamos a diversidade ”

Fino, elegante e -quem sabe? - sincero. Não ofendeu o humorista, apenas mostrou que sabe fazer piada melhor do que ele. A provocação de Bastos deve ter tido repercussão entre seus seguidores no Twitter, a do hotel caiu nas redes sociais e páginas da internet. O comediante foi suplantado em seu trabalho, naquilo em que, teoricamente, ele deveria ser bom. E isso doeu. Doeu fundo.

Ele tentou fazer uma nova piada, dessa fez chula, certamente na tentativa de provocar uma reação do hotel no campo jurídico e ele conseguir novamente ir para a mídia com o título de polêmico, controverso, etc. Publicou: "Vou ali comer 2 pedreiros no Hotel Mercure e já volto".
O Hotel Mercure mais uma vez demonstrou que sua equipe é mais bem humorada que Rafinha Bastos e rebateu: "Escolha um dos 69 Hotéis Mercure no Brasil e aproveite para conhecer nossa carta de vinhos".
2 a 0 jogando em casa. Os próprios seguidores dele no Twitter mandaram reconhecer a derrota e jogar a toalha.

Mas esse homem, cujo ego parece ser proporcional à altura, resolveu partir pro puxão de cabelo e dedo no olho. Foi no site Reclame Aqui, procurou as queixas existentes contra o Hotel Mercure e publicou: " “Hotéis Mercure, parabéns pelo respeito a diversidade! Sensacional. Agora saia do twitter e venha resolver estes problemas apontados pelos hóspedes. Abraço”. Detalhe, nenhuma reclamação é relativa à falta de respeito à diversidade sexual, tema da piada.

Foi a deixa para internautas irem verificar o número de reclamações do Comedians, bar de Rafinha Bastos, e postarem coisas como essa:

" Provando que o clube de comédia do Rafinha Bastos tem três vezes mais insatisfação que o atendimento dos hotéis Mercure. :P

Capacidade do Comedians: 315 pessoas.
Reclamações não atendidas: 4.

Número de hoteis Mercure no Brasil: 30.
Estimativa de ocupação dos quartos por noite: 66%
Número médio de quartos por hotel: 290.
Assumindo uma pessoa por quarto (subestimativa), isso dá 5730 clientes em todos os hoteis Mercure do Brasil a cada noite.
Reclamações não atendidas por Mercure: 25.



A essa altura, não importam os números, as estatísticas e a exatidão das contas. Rafinha Bastos conseguiu trazer uma imagem negativa para seus trabalhos como comediante e como empresário, tudo porque não sabe brincar.


Parabéns ao Hotel Mercure, por sua inteligência, bom humor e oportunidade de marketing. Dizem que se a vida lhe der limões, deve-se fazer uma limonada. No caso do Hotel Mercure, eles pegaram as merdas atiradas e fizeram adubo onde plantaram uma propaganda positiva de sua marca. Ainda colocaram no Facebook:


É xelpo em cima de xelpo pra Rafinha Bastos. E fica o conselho: "SE NÃO AGUENTA VARA, PEÇA CACETINHO".

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A fala te traiu

A princípio, pode parecer que a melhor coisa a fazer diante de um pronunciamento estúpido é ignorar.
Não é tão simples assim. Palavras estúpidas costumam encontrar abrigos em cabeças ocas. E, infelizmente, bom senso não é pré-requisito para ser eleitor. Muito menos para o candidato. E se este só ouve as idéias dos cabeças ocas, ele passará a agir daquela forma para garantir os votos. É preciso que os contrários se manifestem para que os que pretendem representar a população tome conhecimento de que há posicionamento (e potenciais votos) em sentido contrário também.
Mas combater o estúpido não é tarefa fácil como podem pensar alguns. Um grande risco é responder no mesmo nível dele, tomando seus argumentos como se válidos fossem, ou usando os seus próprios valores.

É o que vejo no caso das asneiras ditas por Joelma.
Muitos contra-argumentam desqualificando Joelma como artista. Bobagem. Ser cantora brega não torna ninguém preconceituoso. Joelma não caiu de paraquedas no cenário musical brasileiro. Ela tem uma carreira há anos. Um ritmo de que não gosto, mas tem um monte de gente que gosta. E as besteiras que ela falou eu não admitiria nem que tivessem sido proferidas por Maria Callas. A gravidade de suas palavras não provém de ser ou não qualificada para falar sobre o assunto, mas do acesso à mídia e alcance que elas podem ter. E isso Joelma tem.

Depois reclamaram que Joelma comparou gays a drogados e Joelma e até a banda Calypso disseram que não. Bobagem. Comparou. Mas comparou em um determinado aspecto. Comparou a "reversão" do homossexual à recuperação do drogado.
O problema não está em comparar gays com drogados. O problema é comparar a sexualidade a um vício. É supor que é algo passível de recuperação. A comparação seria igualmente falha se comparasse à difícil recuperação de um velhinho viciado em bingo.
A revolta com a fala, em alguns casos, deixa revelar o quanto se acha pejorativo o termo "drogado", mais do que o despropósito de comparar situações que são distintas.

Responder agredindo o interlocutor ou rejeitando comparações por se achar melhor do que o comparado, e não pela inadequação da comparação, é tanta tolice quanto as que foram ditas.

Por fim, como diz um provérbio hebreu:
"Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que também te não faças semelhante a ele. (Provérbios 26:4 ARC)"

Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...