quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Amanheceu, peguei a viola, botei...

Em São Paulo foi proibida a distribuição das sacolinhas plásticas no mercado.
Medida adotada em várias partes do mundo, atitude ecologicamente correta, a princípio pensaríamos que  seria vista como benéfica. Não foi.

No país do "é tudo pra favorecer o empresário-explorador-capitalista contra o pobre-proletariado-consumidor", a gritaria começou dizendo que era absurdo ter que pagar pela sacola, que se "não pode dar, não pode vender", e um monte de outras coisas. Chegou ao ponto do PROCON mandar o mercado distribuir as tais sacolas biodegradáveis que seriam vendidas.
Então vamos por partes:

1 - A sacolinha nunca foi "gratuita". Supermercado não é obra assistencial e empresário não é filantropo. Não se dá nada. Tudo que se utiliza é repassado nos preços. Na verdade, na prática, o que a lei fez foi separar o custo da sacolinha apenas para aqueles consumidores que não quisessem trazer suas embalagens de casa. A gritaria deveria ter sido, isso sim, para que o mercado tirasse de suas planilhas de custo esse valor da sacolinha, o que resultaria numa queda dos preços.

2 - A cobrança, ao contrário do que os sociólogos conspiratórios possam achar, não é para enriquecer o supermercado, mas sim para desestimular essa compra. A proposta continua sendo que as pessoas tragam suas embalagens de casa.

3 - Já ouvi argumento de que, "quem pode pagar, vai comprar a sacola, e o pobre não vai poder", e que por isso deveria ser de graça. Ou seja, acham melhor distribuir para todos e continuar poluindo, do que conter essa utilização com a cobrança. Numa analogia, eu poderia dizer que, como o rico pode pagar a multa por excesso de velocidade e o pobre, não, o justo seria abolir a multa. É isso produção?
O custo da sacola, a partir de agora, é o ônus de quem não quer ser ecológico, seja rico ou seja pobre. Esse raciocínio é utilizado em todo o planeta. As cotas de carbono existem pra isso. Países e empresas ricas compram as cotas de carbono de outros. Se não fossem as cotas, eles iriam poluir o mesmo ou até mais, sem custo. Tendo o custo para poluir, a lógica é que eles procurem meios de poluir menos.


4- A sacolinha biodegradável, que poderia ser vendida, tem um custo mais alto que aquela que seria distribuída. A idéia é que se o consumidor não quer levar suas embalagens de casa, que podem ser aproveitadas várias vezes, ele pague para levar uma outra que, pelo menos, causa menos dano do que a que era distribuída. Menos danos, mas não é o ideal. Agora, o PROCON diz que o mercado deverá distribuir essa sacola para o consumidor que não levar a embalagem "pelo tempo necessário à desagregação natural do hábito de consumo" . Então fica a questão: qual consumidor vai se dar ao trabalho de levar embalagem, sabendo que tem uma que pode ser dada? Como esse hábito vai se desagregar se, na prática, as sacolas continuarem a ser distribuídas?

Na prática, o custo que seria daquele consumidor que não levou a embalagem, e que teria de comprar, foi repassado para todos. Ou alguém acha que os supermercados vão deixar de repassar essa despesa nos preços?

Como sempre acontece nesse país, a discussão girou menos sobre a eficácia da medida e ficou mais na teoria conspiratória de que querem tirar o direito dos pobres. Na verdade a proibição de distribuição, esvaziada com a medida do PROCON, pretendia que as pessoas, independente da classe social, avaliassem o que seria mais caro: investir na compra de sacolas duráveis e reutilizáveis ou continuar a utilizar as sacolinhas do mercado, pagando por elas diretamente.

Mas não espero que o Brasil entenda qualquer coisa da lógica do capitalismo. Nossa tecla é uma só: o capitalismo é o sistema do demônio e queremos um socialismo, sem ditadura, com iPad e TV de led para todos.

E para ter argumentos contra ou a favor das sacolas, sem se levar pela questão da luta de classes, alguns sites interessantes:

http://www.sonoticias.com.br/agronoticias/mostra.php?id=49634

http://www.sacolinhasplasticas.com.br/#/o-que-voce-pode-fazer

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_255967.shtml

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Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...