domingo, 3 de abril de 2016

Do barro em que você foi gerada

Lembro de uma eleição para prefeitura da cidade de Camacã, cidade próspera e moderna do interior da Bahia.

De um lado,  o candidato da situação. Político de longa data e parente do governador Paulo Souto.

De outro,  "a esposa de Dr. Rubens", médico que teve sua candidatura bloqueada por uma aliança de seu partido com o PFL,  após o prazo para desfiliação.

O argumento de ambos os lados era que quem iria governar era o marido. Assim, os adeptos de Dr. Rubens, votariam na esposa, mas muitos indecisos questionavam isso e sucumbiam à propaganda do opositor, que estava em aparente vantagem. Vantagem tão grande, que uma empresária da cidade prometeu dar para um jegue se a mulher de Dr. Rubens ganhasse.

E eis que ACM, o Velho, resolveu ir num comício em Camacã , dada a importância dessa cidade para o cenário político-econômico do país. Já estava próximo das eleições e um discurso de visita tão ilustre era considerada a pá de cal na candidatura da mulher.

Em sua fala, ACM exortava: "Dr. Rubens, não exponha sua mulher desse jeito. Não se esconda atrás da sua mulher. O nome de minha mulher é Arlete,  mas eu é que venho aqui, enquanto ela fica lá no lugar dela, cuidando da cozinha, da casa, dos filhos".

O que se seguiu, só quem estava na cidade pode descrever com clareza.
Uma passeata de mulheres, batendo panelas, bradando contra o machismo e gritando: "o povo é que quer, votar na mulher".  E, de repente, a "esposa de Dr. Rubens" virou "Débora". Trouxe o voto das mulheres e de muitos maridos de mulheres fortes. Estes, não sei se reconhecendo ou submetidos à essa força.

Foi como se aquele discurso tivesse lembrado às pessoas o que realmente significava aquela proposta política. Revelava que tipo de gente era aquela. Ia além do não investir em educação para fazer festa, ou se roubava ou não dinheiro. Mostrava como aquelas pessoas eram em suas vidas privadas.

Débora ganhou a eleição para surpresa de muitos. A cidade comemorava como em uma catarse. Trouxeram até um jegue, de gravata, para a empresária que, para decepção de muitos, não cumpriu a promessa, mas ficou conhecida por muito tempo como "Paula do Jegue", apelido que tive que evitar depois que ela se casou com um colega de trabalho.

Hoje, vendo a capa da IstoÉ, lembrei de tudo isso.

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