sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Ninguém segura a juventude do Brasil

As praias do Brasil ensolaradas
O chão onde o país se elevou
A mão de Deus abençoou
Mulher que nasce aqui
Tem muito mais valor
O céu do meu Brasil tem mais estrelas
O sol do meu país mais esplendor
A mão de Deus abençoou
Em terras brasileiras
Vou plantar amor

Por dizer essas palavras,  Don e Ravel foram execrados pelo patrulhamento da época,  que exigiam que os artistas se expressassem conta a ditadura e conta os militares.
A música não fala nada sobre a política brasileira,  não defende o regime e a exaltação ao país em nada atribui qualquer mérito ao governo,  pois fala das belezas naturais do país.
Mas o discurso ideológico não é necessariamente lógico e criticava os cantores populares de falarem bem do país,  ou de falarem de assuntos outros que não uma crítica ao sistema.
Esse tipo de pensamento não apenas é limitado,  como hipócrita,  servindo para esconder o preconceito contra determinados artistas e gêneros mais populares,  em detrimento dos "cults" e queridos dos intelectuais e jovens descolados.
Qual a diferença entre o que diz a letra da música acima e a seguinte :

Moro num país tropical
Abençoado por Deus
E bonito por natureza
Em fevereiro tem carnaval
Eu tenho um fusca e um violão
Sou flamengo e tenho uma nega
Chamada Tereza

Só que Jorge Ben, esse era o nome antes dele voltar americanizado,  fazia parte do grupinho,  era um deles e, portando,  jamais seria acusado de alienação,  de colaboracionista. A diferença entre ele e Don e Ravel era a classe social do seu público majoritário.  Um agradava os jovens da classe média que estavam caminhando e cantando e seguindo a canção, enquanto que os outros cantavam para as classes menos favorecidas, que sabiam apenas que os militares tinham dominado o país,  ma que se ficassem quietinhos nada de mal acontecia e que quando alguém,  por mais honesto que fosse,  ia preso é porque alguma coisa tinha feito.

A acusação de alienação e colaboracionismo com o regime era feita para quase todos os cantores populares,  os cantores de música brega,  sob alegação de que suas músicas não denunciavam para o povo,  nem mesmo implicitamente,  as atrocidades do regime.
Como se elogiar a coisa mais linda que vem e que passa fosse alguma forma de progresso libertário.

Don e Ravel foram execrados pela patrulha ideológica,  ainda que nunca tivessem feito a música a pedido de governo algum,  ainda que não tivessem defendido o regime ou auxiliado denunciando algum subversivo.  De outro lado,  certa cantora queridinha dos intelectuais,  de inegável talento,  cantou em evento público promovido pelos militares e não caiu em desgraça,  como aliás não deveria ter caído,  sendo consagrada até hoje por sua arte,  independente de quaisquer posturas políticas.

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