domingo, 23 de março de 2014

Privilégios ou necessidade?

Normalmente, no Facebook, questiono os cristãos quando vejo crimes de homofobia.
E os questiono, porque, na minha visão, os cristãos são os responsáveis por impedirem a lei que criminalizaria a homofobia.

Pra justificar, devo dizer porque acho importante a tal lei.
Na prática, o que se pretende é tornar mais graves as penas de injúria, quando a motivação dessa injúria for a sexualidade da pessoa, e de outros crimes (agressão, homicídio, etc). Como hoje já existe com a etnia. Se alguém chama alguém de "burro", isso é ofensivo e tem uma pena. Se alguém diz "burro assim, tinha que ser preto", certamente que é uma ofensa muito maior para essa pessoa e, por isso, essa injúria tem que ter uma pena maior.
Alguém consegue hoje imaginar uma vereadora dizer, em alto e bom som, numa sessão da câmara: "tirem esse preto daqui?". Não, né. Isso porque a duras penas temos leis que punem o racismo. Não quer dizer que não temos vereadores racistas, mas eles sabem que esse tipo de verbalização tem consequências. E não podendo vociferar sua ignorância, tem que rebater seus adversários usando argumentos e não injúrias, e não ofendendo-os na tentativa de inferiorizá-los.
Ninguém, em bom senso, diz que é privilégio para os negros terem uma lei dessas. Alguns pensam, é verdade, mas até mesmo esses sentem uma certa vergonha em expor essas ideias, tal a assimilação da sociedade de quanto é importante combater o racismo.
Porém, vemos uma cena como essa:

Vereadora baiana chama líder estudantil de “bicha louca” na Câmara


Alguém realmente acha que esse é um comportamento "normal" para uma veradora? Que esse tipo de argumentação não ofende? Não discrimina? Não é para inferiorizar a pessoa?

O estudante em questão era uma pessoa preparada, consciente dos seus direitos e está tomando as providências. Mas alguém realmente acha que é simples "tirar de letras", "dar de ombros" ou que não é humilhante ouvir isso de uma pessoa que está com o microfone, que exerce poder naquela reunião, numa sala cheia de pessoas dispostas a rir dessa "gracinha"? Você consegue se imaginar numa situação semelhante? Tem certeza que conseguiria ignorar e continuar sua vida tranquila?

Bom, é por isso que acho a lei importante. Porque a falta dela permite uma opressão aos homossexuais.

Quanto a achar que os gays querem "privilégios" por quererem leis que os defendam, talvez alguns cristãos também não entendam quando Jesus fala que larga as 99 ovelhas e sai em busca da única perdida. Deve achar que essa é privilegiada.

Se comportam como o filho mais velho da parábola que reclama que o pai fazia festa e "privilegiava" o filho que saiu de casa e voltou pobre. Acha que dar a proteção necessária a quem se encontra numa situação desfavorecida é "privilégio", sem perceber que eles não recebem essa proteção porque não precisam, assim como pai da parábola disse ao filho mais velho que nunca fez festa pra ele, porque ele tinha acesso a tudo e ele mesmo poderia fazer a festa a qualquer hora.

Os crimes de racismos não impedem a existência de racistas, não impedem que pessoas ofendam negros apenas por serem negros, não impedem que pessoas queiram matar negros. Mas impede que isso se torne banal, corriqueiro, pelo menos no aspecto "por ser simplesmente negro". Claro que muitos ainda morrem, porque são "confundidos" com bandidos, e o motivo da "confusão" é tão somente a cor da pele. Isso ainda precisa ser combatido. Mas não é retrocedendo no que já conseguimos que vamos resolver essa questão. Temos que avançar.

No caso dos homossexuais, a sociedade está numa etapa abaixo. As pessoas são mortas, simplesmente por serem homossexuais. Aliás, simplesmente por "parecerem" homossexuais, como os relatos de irmãos e até pai e filho que estavam abraçados e foram agredidos. Sem mais.

Alguns amigos cristãos não gostam que eu diga que a responsabilidade da lei não ter sido aprovada é dos cristãos. Quanto a isso, falarei na próxima postagem.

Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...