quarta-feira, 26 de junho de 2013

Cuba lançando médicos no Brasil

Em 2010 fui a Cuba com dois amigos.  Os nomes dos dois, como alguns detalhes, serão omitidos para preservar as identidades e intimidades.

Um deles, há alguns meses, tinha batido a perna num baú e feito uma ferida feia que, com o tempo, foi ficando mais estranha. Procurou médicos no Brasil, fez exames, tomou os remédios indicados e melhorou. Porém, na viagem de tantas horas, a perna começou a incomodar e em dois dias estava muito inchada.

Meu amigo tentou comprar um medicamento já prescrito no Brasil, mas só achou um outro com um componente para o qual é alérgico. O único que achou que poderia tomar era injetável. Comprou e foi indicado a uma enfermeira de um hotel ali perto. Essa perguntou porque ele tomaria aquela injeção. Apesar de ele mostrar a receita, ela disse que só aplicaria a injeção se ele visse a médica que atendia no hotel.Explicamos que não éramos hóspedes daquele hotel, que estávamos em outro ali perto. Ela disse que aquela médica era daquela região.
A médica fez um verdadeiro interrogatório sobre o que o paciente sentia, sobre como tudo começou, como as coisas aconteceram e tudo aquilo que o paciente tem vontade de explicar em detalhes, mas os médicos aqui no Brasil, quando não interrompem, não prestam atenção a esses "detalhes".
Ao final, sem nenhum exame laboratorial, sem raio-x, ressonância magnética, tomografia, a médica deu o diagnóstico e deu uma receita.
Ao final,  perguntei sobre o preço da consulta. A médica deu o preço, mas disse que não nos preocupássemos se não tínhamos levado dinheiro. Poderíamos pagar depois e, se não tivéssemos condições de pagar, voltássemos para falar com ela que ela iria fazer o relatório justificando o atendimento sem cobrar.
Nos dias seguintes, a enfermeira foi diariamente ao nosso hotel trocar os curativos e aplicar os medicamentos. Depois de alguns dias, ficamos preocupados com a conta desse serviço. A enfermeira disse que a gente já tinha pago a consulta para a médica e que ela recebe salário para atender. Seria diferente se nós a tivéssemos contratado como enfermeira, ela teria direito a cobrar os honorários da tabela, mas naquele caso, ela estava atendendo como continuidade daquele atendimento.
Com a médica é diferente. O dinheiro pago era para a médica, porém a médica paga ao governo para atuar naquela área e tem que atender de graça se a pessoa não pode pagar. O que a médica paga ao governo é conforme o que ela recebe.
A médica nos deu um recibo e pensei: e se ela não desse? Como o governo sabe que a médica está cobrando ou atendendo de graça?
Com o tempo, e mais intimidade, perguntamos essas e outras coisas para a enfermeira. Ela disse que, em primeiro lugar, o médico sabe que roubando do governo, rouba de todos. Além disso, se o administrador do hotel desconfiar, denuncia ela ao governo. E a punição é severa, então não tem porque ela se arriscar a fazer isso.

Só saímos do país depois que a médica se certificou de que haveria condições de o paciente viajar sem riscos, mesmo assim com várias exigências (não poderia ser por Caracas, pois o percurso era maior, não poderia ir sozinho, teria que ir de primeira classe para poder ficar mais inclinado). Ela disse que sem isso, ela avisaria ao aeroporto que ele não poderia sair. Aconselhou o que deveria ser feito, inclusive um determinado exame que nem sei o nome, que confirmaria o diagnóstico dela.

A enfermeira nos acompanhou até o aeroporto, após ter se recusado receber qualquer pagamento nosso durante todos os dias em que foi ao hotel. Para pagar, fizemos um artifício: colocamos algum dinheiro dentro de uma sacolinha com uma lembrancinha que ela aceitou.

No Brasil, após exames laboratoriais e outros, inclusive o exame aconselhado pela médica cubana, um diagnóstico com uma palavra diferente da usada pela médica cubana. Fomos à internet e vimos que era a mesma coisa, só que lá chamam diferente.

Então, não me venham desqualificar médicos cubanos, por favor. Tenho a maior admiração pelo que vi.

3 comentários:

  1. Aff! Benicio dá muito trabalho... E ainda se veste de Chaves... sei não...

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  2. Benício Golfinho28/06/2013, 09:09

    Eu agora já não sei se comento aqui ou no face. Fiz por lá, porque imagino que divulgue mais seu texto. É isso mesmo? Fiz certo?

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