domingo, 16 de dezembro de 2012

E daí?

Textos e textos falando da grande vitória de Ellen Oléria no The Voice e que essa vitória seria maior pelo fato de ela ser mulher, negra e homossexual.
Sinceramente, não vejo grandes méritos nisso.
Não estou sequer insinuando que não há racismo no Brasil, nem discriminação contra mulheres ou homossexuais e, principalmente, contra a mulher, negra e homossexual (mais discriminada aí, só acrescentando a condição de nordestina).
Mas há certos meios em que há muito tempo há espaço para certas minorias, onde os talentos e aptidões das pessoas são analisados independente de cor de pele, sexo ou sexualidade.
Vanessa Jackson, igualmente mulher, igualmente negra, igualmente gorda, ganhou o Fama da, igualmente aderente da política WASP, Rede Globo.
Não há novidade nisso, nem sinais de diminuição de preconceito da Rede Globo ou de seu público por causa disso.
As mulheres continuam sendo objetos sexuais e as negras, objetos sexuais rebolantes, "com tempero", "com pimenta", "com sabor de pecado" e com todos os complementos de duplo sentido sexual com que a TV possa estimular seu público.
A grande diferença, pra mim, está na sexualidade da cantora. Veja bem, não que uma mulher gay cantando seja um grande choque no Brasil. Aqui a impressão é que se precisa garimpar na memória para se achar uma voz feminina heterossexual de talento.
Entre as finalistas do programa, aparentemente, se gritasse "pega sapatão", acho que só ficava uma, meu irmão. E apenas, acho, sem maiores subsídios para afirmar com certeza.
Mas no caso da concorrente que colocou, a cada semana, a legenda identificando sua namorada ao lado de sua mãe, há que se destacar sua coragem.
Essa atitude poderia reverter em votos contrários do público.
Mas também não acho que o público que votou em Ellen esteja assim "de mente aberta" para aceitar uma irmã, tia, vizinha, colega de trabalho, filha homossexual.
Aceitaram uma artista, mas de artista se aceita e vêm se aceitando, muita coisa. É outro tipo de gente.
Ellen, essa sim, que sabe o que é ser considerada gente de outro tipo, que deve ter sofrido, ou não, não sei, preconceito por ser mulher e negra, condições que não poderia esconder se quisesse, deu provas de que não queria, pois aquilo que muitos escondem (sem críticas, cada um sabe de si), ela resolveu revelar.
A vitória é dela, mas só dele e só pessoal. Não acho que vá haver nenhuma mudança na visão das pessoas em relação a mulheres, negras, gays, gordas, loiras, bonitas, altas, feias...

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