terça-feira, 3 de abril de 2012

Me faça uma garapa!

Cada vez mais tenho vontade de repetir a frase do título, a qual ouvia de minha mãe desde o tempo em que eu não tinha idéia do que fosse uma garapa. Outras vieram depois, "me deixe", "se saia", "me poupe"... Mas "me faça uma garapa" ainda me parece muito adequada em certas ocasiões.
Ocasiões como quando percebo que virou lugar comum na internet (como se tudo na internet, pela facilidade com que é replicado, não fosse lugar comum), dizer que as pessoas são mais felizes no Facebook, no MSN, no Instagram do que na vida real.
Oh! Amigo, você acha? Parabéns, você acaba de descobrir que as pessoas mentem. Surpresa.
Desde que aprendeu a se comunicar, os homens contam as suas historias de forma fantasiada.
A realidade é vista, sentida e presenciada por todos. Ela é comum. Não precisamos compartilhá-la. Pelo menos não com todo mundo e não com tanto entusiasmo.
A realidade é o ascensorista me perguntando pra qual andar que eu vou, a realidade do Facebook é se eu disser que o cara do elevador parece Cauã Raymond e declama os andares pedidos em rap.
Quem quer realidade, por favor, leia o jornal. Ou melhor, fique na porta de casa olhando em volta.
A festa não está tão animada ou a turma não é tão amiga quanto aparece na foto? E daí? A caçada não é tão gloriosa quanto desenhada na caverna, a jornada não é tão emocionante quanto narrada na Odisséia, as vitorias não são tão retumbantes quanto descritas nos livros, nem a Mona Lisa tão enigmática quanto o quadro. As paixões nunca são tão grandiosas quanto cantadas e nem vou falar dos relatos religiosos.
Se ouvirmos um mesmo fato relatado por cada envolvido individualmente, ouviremos cada um narrando o que fez de certo, ainda que o resultado tenha sido um fracasso. Ninguém relata suas falhas, mesmo os mais sinceros só o fazem em casos excepcionais, onde haja relevância nessa confissão. Nos relatos do dia a dia, só revelamos o melhor de nós mesmos.
Nenhum adulto ouve alguém falar de si mesmo sem dar "um desconto" quando é exigido. Na maior parte do tempo, esses pequenos retoques na história são inofensivos e ninguém se importa. Nos distraímos com isso, nos sendo indiferente se é verdade ou não. Ninguém liga. Ninguém, não. As pessoas realmente chatas, que não conseguem ser interessantes nem maquiando suas vidas, fazem questão de estragar o brinquedo alheio.

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