domingo, 4 de março de 2012

Além de dois existem mais

Se com os blogs as pessoas ganharam a oportunidade de expor suas idéias para o mundo, com as redes sociais, elas parecem querer ir além. Elas querem impor suas idéias ao mundo.
Ninguém mais se contenta em diser "eu penso isso", "eu acho isso", "eu acredito assim". As postagens afirmam e dissem "fato". Não raro, já menosprezam qualquer idéia contrária, geralmente em frases como "não sei como tem gente que...", "e ainda dizem...", "pobres os que pensam..."
Será que é tão doloroso pra humanidade aceitar a pluralidade de idéias, atitudes, modos de vida?
Por que as pessoas só conseguem expressar que são felizes com suas vivências espirituais, demonstrando pena dos ateus?
Por que a mulher que optou por priorizar seus projetos pessoais, se sentindo plena sem precisar casar e ter filhos, acha que a que resolveu focar sua energia em construir a família necessariamente é submissa ou infeliz ou incompleta?
Não dá pra dizer que é feliz no casamento, sem questionar a opção dos que querem estar solteiros?

E aí de quem colocar comentários contrários a quaisquer das opiniões emitidas!
Como alguém que coloca o ponto de vista contrário sempre que percebo que o emissor não está admitindo a existência de outro meio de ver a coisa, mesmo quando concordo com a opinião emitida, percebo o quanto isso desagrada aos palpiteiros de plantão. Alegam que eles tem direito a opinar sem serem contestados, porque o perfil é deles, que quem quiser discordar que vá falar nos seu perfil, que não falou aquilo para ser debatido e outras demonstrações de intolerância e falta de disposição para que se ache um "caminho entre as idéias".

Na defesa de suas opiniões, as pessoas chegam a descartar fatos indiscutíveis para que isso não abale suas convicções.

Essa situação me veio à mente ao ver um documentário no Canal Brasil sobre poliamor.
Assunto polêmico, o poliamor admite a possibilidade de amar mais de uma pessoa quando se está em um relacionamento. A maioria das pessoas confundem com depravação ou promiscuidade ou traição, por mais que os adeptos do poliamor expliquem se tratar de relacionamentos consensuais com aquelas pessoas.
Particularmente, sou monogâmico. Cresci numa sociedade que me ensinou isso como padrão. Mas não sou estúpido a ponto de ignorar que isso é uma convenção social.
Existem vários outros modelos de relacionamentos, em outras culturas, em outros tempos e até na natureza. Até mesmo na Bíblia, onde a maioria das pessoas com poucas inclinações a opniões divergentes buscam suas certezas.
É possível dizer porque o modelo monogâmico é o ideal (ou não) para nossa economia, porque ele facilita ou dificulta a estruturação de uma família e muito mais, mas não se pode afirmar com certeza que ele seja melhor ou pior para pessoas, simplesmente porque isso é opinião. E certamente não se pode pode dizer que seja o modelo certo, ou ideal, ou natural, ou divino.

No documentário que mencionei, o repórter pergunta pra uma mulher: "como você se divide entre seus dois amores?"
E ela rebate: "como você se divide entre seu pai e sua mãe?"

Admito que talvez não tenha sido tão simples assim pra ela chegar a essa assertiva, afinal ela também foi criada numa sociedade monogâmica, mas a resposta dela pode nos fazer pensar que pra algumas pessoas é simples assim, e só porque não entendemos, não quer dizer que do nosso jeito é melhor.

Acho que muitas vezes as pessoas sentem inveja de quem tem comportamento não convencional e, por não ter coragem ou estrutura de fazer o mesmo, procuram defeitos naquele comportamento e tentam afirmar os seus.

Um comentário:

  1. Excelente post, Djaman. A impaciência ou a simples incapacidade de discutir é um mal típico dessa geração do #FATO, que se mostra o fruto podre de um tempo em que se vendem livros como nunca, mas, estranha e contraditoriamente, se lê cada vez menos e pior.

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