sábado, 14 de janeiro de 2012

Se ocupa, Salvador!

Deve estar ocorrendo nesse momento, caso não tenha sido dissipado pela polícia, um movimento pacífico, convocado pelas redes sociais, com o objetivo de protestar contra a ocupação de uma praça em Ondina para instalação do Camarote Salvador.
Pra começo de conversa, sou totalmente a favor de qualquer movimentação popular para reinvidicar o que quer que seja. A utilização de redes sociais para tal fim é apenas uma forma inteligente de se divulgar o evento.
Mas, infelizmente, parece que a noção de cidadania do brasileiro não vai muito além de um oba-oba na internet.
Muitos dos "bichos grilos", "esquerdistas", "moderninhos", "contra o capitalismo selvagem e a elitização do carnaval que ocupa os espaços públicos" que estão aderindo ao movimento da moda, estarão daqui a 32 dias pegando seus abadás dos blocos e credenciais dos camarotes.
Ora, os blocos de carnavais por acaso desfilam em espaço privado? Qual a contrapartida que eles dão para a população, especialmente a quem mora dentro do circuito, por trancafiá-la em casa, sem direito a sequer passar mal, pois não consegue ir a um hospital nem receber socorro em tempo? Se nem o básico, que é exigido de todos os brasileiros, imposto, eles pagam.
E olha que o ISS cobrado dos blocos é de 3% sobre o faturamento. (Fonte: suacidade.org).  Isso, mesmo. Enquanto o cidadão paga, por morar em Salvador, o IPTU, a taxa de iluminação pública e a taxa de lixo, o bloco carnavalesco DEVERIA pagar apenas 3% do faturamento. Digo deveria, porque quando o preferito dessa cidade ainda fingia que trabalhava, coisa que ele nem se preocupa mais em fazer, ele colocava na mídia a dívida dos blocos que se arrasta por anos. Aí o Chiclete ameaçava "não botar o bloco na rua", e o prefeito recuava, como se Bell Marques fosse capaz de abrir mão da fortuna arrecadada com a venda de abadás e publicidade, às vesperas do carnaval.
E os camarotes? Engana-se quem pensa que eles estão em locais privados e nada levam do dinheiro público. Os camarotes se beneficiam das leis de incentivo a cultura, que deveriam ser usadas tão somente para os eventos que não podem se manter com incentivos particulares. O que definitivamente não é o caso de um camarote de carnaval. Aí, os mesmos atores teatrais que circulam sorridentes pelos camarotes, desfrutando das credenciais ofertadas ou adquiridas às custas de muitas ligações para conhecidos, reclamam no resto do ano da falta de incentivo para suas produções.
Para que a população possa entender, já que há toda uma discussão contra cotas, é como se negros ricos, de famílias abastadas, usassem a maioria das cotas para negros, fazendo com que os negros pobres não tivessem acesso a esse benefício. É cultural? É negro? É. Precisa do benefício? Não. E ainda tira de quem precisa.
Ora, então qual o sentido em protestar contra um camarote e participar dos outros?
A minha questão não é se sou contra ou a favor do movimento, do camarote ou do carnaval. Mas seria preciso um pouco de coerência dos manifestantes.
Não acredito em entrar num movimento pela onda, pela moda, ou porque é "cult" se rebelar.
Acredito em mobilização pelo que se acredita e quando se está disposto a agir conforme se acredita.


Um comentário:

  1. Achei otimo o texto atentar para isso, mas o perfil do desocupa é pipoca. Claro, que pode ter infiltrados por outros interesses.

    ResponderExcluir

Os comentários são moderados, mas não são censurados. Caso seu comentário não vá ser exibido, uma explicação será dada.

Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...