segunda-feira, 16 de agosto de 2010

É fácil gravar

O Fantástico criou há alguns meses um quadro chamado O Conciliador. Durante meses, resolveram brigas de vizinho, penimbas de família e outras inticâncias.
Tudo rápido, solucionando em uma semana o que o judiciário leva meses, anos.
Pois eis que o Fantástico resolveu procurar briga com o ramo imobiliário. Mostrou um caso de um casal que não recebeu o imóvel prometido, apesar de já ter vencido o prazo há anos e de um casal que começou a pagar as prestações mas que o financiamento não foi aprovado pela CEF e a imobiliária não queria devolver, apesar de o vendedor ter garantido que haveria devolução nesses casos. Por fim, relatou a história de um condomínio cujos proprietários pagaram caro para ter um prédio ecologicamente correto, porém nada do que foi especificado havia no edifício.
Mas o Fantástico não pode fazer a famosa cena de colocar os litigantes cara a cara na mesa de conciliação. Todos os envolvidos receberam comunicado da empresa de que não iriam para o quadro do Fantástico e que de eles não desistissem da reclamação no programa, eles poderiam ir à Justiça que as empresas recorreriam por anos. Ofereciam pagamento de parte do que era devido a eles. Era pegar ou largar. O condomínio pseudo sustentável foi coagido a sequer permitir a filmagem das unidades.
Bem vindo ao meu mundo, Max Gehringer! Resolver picuinhas sobre quem é o dono do cachorro, ou se um muro deve ficar 2 metros pra direita ou pra esquerda, é coisa que qualquer dono de boca de fumo resolve na favela. O que o judiciário brasileiro enfrenta diariamente é a luta contra litigantes "profissionais". Gente que sabe como fazer o sistema rodar em seu beneficio e usa todos os recursos cabíveis para prolongar um processo. Sabem abarrotar os cartórios de petições inúteis, que precisam ser lidas e respondidas, apesar das inutilidades. Aliás, são úteis para atrasar o andamento do feito.
As empresas, apesar de serem distintas e em estados diferentes, agiram exatamente da mesma forma, demonstrando claramente que existe uma comunicação e um acerto de postura em determinadas questões, nem sempre éticas, envolvendo até ameaças veladas.
O Fantástico sentiu a frustração de fazer tudo direito e ver o poderio econômico sobrepujar suas tentativas.
E olha que o programa se propõe a analisar dois a três casos por semana. E só atua até o acordo. Não se preocupa com a execução no caso de não cumprimento, que é a grande maioria das pendências judiciais.
Espero que percebendo que ninguém faz concurso público para apartar brigas de comadre, a Rede Globo tenha entendido que não é fácil fazer sequer uma parcela daquilo que o servidor público faz diariamente.


Pelo celular: Djaman Barbosa.

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