sábado, 12 de dezembro de 2009

A onda é essa!

(Palavras coloridas são links e devem ser clicadas para melhor compreensão da postagem)


Eu não consigo imaginar exatamente a reação do público quando foram apresentadas ao cinema ou à televisão. Ao contrário do que alguns possam pensar, quando eu nasci essas coisas já existiam.
De meu tempo pra cá, a TV ficou colorida, depois menor, depois maior, estéreo, com vídeo cassete, com dvd. O cinema ficou com telas maiores, som melhor, 3D, digital. Mas proporcionavam a mesma sensação, só que cada vez melhor.
Com a internet a coisa é diferente. Zeca Baleiro pode encher páginas e páginas da IstoÉ falando contra, qualquer intelectualóide esnobe pode torcer o nariz, mas a internet possibilita um tipo de diversão que eu nunca vi antes.
Vamos ver só um dos seus recursos: o Youtube.
Antes dele, o público esperava que a TV ou o cinema lançasse um artista, ou personagem, para admirá-lo, imitá-lo ou odiá-lo. Com o Youtube, o público é que lança suas celebridades, faz a divulgação, e parte pro seguinte.
Maria Alice Vergueiro("Tapa na Pantera"), Sônia("Dabliu, dabliu. dabliu, iutubiu), As arveres somos nozes, Jeremias ("O cão foi que botou pra nós beber), O doador de sangue corajoso ("Não dói nada... cacete de agulha"), A louca de Pedro ("Me dá meu chip"), Jesus Cristo, o musical ("you think I'd lay down and die"), tiveram audiência de fazer o último capítulo de Roque Santeiro parecer o Jornal do SBT - edição da manhã!
Além de vistos, os vídeos foram dublados, copiados, animados, remixados e acabaram, claro, na televisão, onde programas sem pauta mostram esse vídeos para um público sem internet, como se fossem uma grande novidade.
Isso sem falar nos hits musicais que são lançados ali ganham o gosto do público e fazem um sucesso que jabá algum compra. A escrachada Vai, Wilson, Vai anima aulas, shows de drags em Porto Seguro e apresentação dos Inimigos da HP.
A dor do corno cibernética chamada Vou te deletar do meu orkut, de Everton Assunção, é um sucesso (está no top das 5 piores) na terra do fado, na voz de Elvio Santiago e gerou o auto-plágio (recurso conhecidíssimo na musicalidade baiana) Vou-te bloquear no meu Hi5, além da versão em inglês I will delete you from myspace!
Cris Nicolotti, além de causar problema pros programas de Tv que tiveram que reproduzir seu sucesso "Vai Tomar No Cu", virou ringtone, inspirou um concurso de "libertação"(um site que infelizmente saiu do ar) e musicou centenas de clips como esse feito por mim.
Isso sem falar em flagrantes da televisão e das celebridades que a mídia comum relutaria em exibir, mas que depois do Youtube foram obrigadas a mostrar.

O sucesso desses vídeos, eu acredito, se deve a três fatores:

1 - Eles não são feitos buscando fórmulas de agradar o público. Tanto assim que boa parte não foi parar na internet por iniciativa de seus produtores. Alguns até foram à revelia destes. Isso quer dizer que enquanto os produtores de cinema e TV ficarem empurrando seus sucessos fabricados com fórmulas obtidas através de pesquisas de comprotamento, o público quer a produção espontânea, natural, para escolher entre aquilo que é oferecido o que gosta ou não. Há no Youtube milhares de vídeos que não caíram no gosto popular. Alguns até bem parecidos com estes, mas a liberdade de cada um criar o que quer é que eu acho que agrada.

2 - Ruptura do politicamente correto. Nada é tabu, nada é censurado. Pelo menos pelos produtores e nem, até que a justiça brasileira ou o governo chinês obriguem, pelo Youtube. E não só esse verniz hipócrita é retirado como a estética clean, onde todos são bonitos e penteados, magros e ágeis, polidos e educados. O virtual do Youtube é mais real que uma "ao vivo" da TV. O país sem racismo, sem homofobia, com crianças boazinhas que a Justiça impõe nas novelas é substituído pelos tipos cotidianos, piadas que exploram o ridículo, nem que seja do autor, deixando que o público selecione o que gosta ou jogue no ostracismo aquilo que julga incoveniente.

3 - "Copyleft". A expressão surgiu para se opor ao copyright e indica um produto que pode ser usado livremente. O público se apropria do conteúdo do Youtube e usa como bem quer, em outros clips, quase sempre num "funk" (todos os vídeos aqui citados tem sua versão funk). Isso, ao contrário de diminuir o sucesso do original, como temem os donos da indústria de entretenimento convencional, só tem ajudado a aumentá-lo. Um exemplo claro é o do pessoal do Terça Isana. Graças ao Youtube, com filmagens clandestinas de seus trecho, o espetáculo ficou conhecido no país todo e, só depois de tão divulgado, foi que eles passaram das apresentações semanais de terça-feira em São Paulo para grandes teatros pelo país. Ao invés de aproveitar o veículo pelo qual fizeram sucesso, eles resolveram se apropriar dele por meios convencionais: continuaram proibindo a filmagem de seus espetáculos e passaram a disponibilizar o conteúdo que eles querem, como um trailer... resultado: acabou o frisson e ninguém mais acessa o Youtube atrás de uma novidade do Terça Insana como fazia há algum tempo.

A indústria tem que perceber que há uma nova forma de o público interagir com o conteúdo. Depois de um ano de TV Digital no país, as emissoras não investiram nada em sua interatividade e ela continua a mesma de sempre, apenas com imagem e som melhores e exigindo um aparelho caro para complementá-la.
No Youtube a gente escolhe a programação, vê cenas de programas antigos e tudo de graça.
O mundo mudou e quem não percebe fica chorando as perdas.

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