quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Até um dia, até talvez, até quem sabe...

Às vezes eu me irritava quando Sandro vinha contar uma história que eu sabia que era uma desculpa esfarrapada para ele justificar uma atitude que eu nem estava julgando, nem ligando. Mesmo assim, fingia aceitar a história. Mas isso acabou.
Eu gostava de passar pelo serviço de protocolo e receber o aceno e o sorriso de Marízia. Retribuía, mas achava engraçado tanta simpatia de alguém que eu mal conhecia, com quem não tinha trocado mais do que 3 ou 4 frases. Mas isso mudou.
Não sei quantas vezes eu e Almir iríamos fazer a mesma piada sobre toda a culpa do setor de informática ser do pessoal da rede e sobre o fato de ele "trabalhar na rede". Mas sei que não faremos mais.
Eu fiz suspense e não contei os detalhes de como tirei a foto de Yuri no carnaval. Não contarei mais.
Não dá pra relatar quantas conversas, brincadeiras e desavenças eu tive com Paulo. Só sei que não mais as terei, pois ele e todos os outros colegas de trabalho aqui citados morreram em menos de um ano e meio.
Todos com menos de 50 anos. 4 por problemas de saúde. O mais jovem, mais novo que eu, vítima da violência e de uma ignorância que impede inclusive que esse crime seja apurado.

A sensação de finitude nunca foi tão forte em mim. Em 14 meses, eu só ouvia notícias sobre alguém que simplesmente deixou de existir.

Parece egoísmo analisar a morte de uma pessoa do seu ponto de vista, mas qualquer que seja a crença acerca do que acontece depois que a vida se esvai, é certo que pra eles não há mais preocupações e que as nossas não os afetam.

Só nos resta então refletir os efeitos desse evento sobre nós que restaram. Pra mim fica um desalento. Momentâneo, eu sei, mas ainda assim profundo. "Podia ser eu" soa na minha cabeça a todo instante. E se fosse? Todos os planos que deixei pra depois... que depois? Todas as viagens que adiei... pra quando?

Mas não é só por mim que fico triste. É por eles também. Não importa se essas vidas continuam em outro plano, sob outra forma, eles poderiam ter continuado por aqui mais tempo. Pessoas miseráveis, que só fazem o mal, ficam por aqui anos e anos e ainda morrem com todas as pompas e homenagens por parte até de antigos desafetos, não queiram que me conforme com a morte prematura de pessoas boas.

Esse post não é muito agradável, mas não me conformaria em fazer uma nota padrão, de conformismo e esperança, de fé num plano superior, vendo tantos conhecidos morrendo em tão pouco tempo.

Sinto falta de cada um desses detalhes. Sinto saudades de Paulo me chamando de "meu paradigma".

Um comentário:

  1. Essa sensação de finitude também me faz pensar, principalmente porque é tanto trabalho que não temos tempo de dizer que gostamos das pessoas, que demonstrar o quento elas são importante pra nossa vida. De todos que vc citou, só não conheci o Paulo. Sinto muita saudades de Yure.

    ResponderExcluir

Os comentários são moderados, mas não são censurados. Caso seu comentário não vá ser exibido, uma explicação será dada.

Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...