sábado, 25 de outubro de 2008

Singing everywhere

Não gostava quando a Sessão da Tarde passava aquele tipo de filme. Aos 8 anos de idade, não conseguia entender que alguém começasse a cantar uma música que relatava justamente a situação pela qual a pessoa estava passando e, de repente, todas as pessoas em volta sabiam a letra dessa música. Aquele filme não me convencia. 

Cresci e aprendi que aquele filme era feito pra ser assim mesmo. Que era um gênero. Mas infelizmente, nessa época, os filmes musicais pareciam estar em crise. Pelo menos em crise existencial, pois começaram a surgir enredos que pareciam querer justificar aquela cantoria. Em Flashdance, a protagonista era uma dançarina, o que se explicava que a música tocasse o tempo todo. Em Fama, a história se passava numa escola de arte, com cantores e dançarinos como personagens. Usaram um coral de igreja pra desculpar a cantoria em Mudança de Hábito e uma seleção pra musicais em A Chorus Line. 

Mas não era como os musicais de antigamente, onde a melodia entrava para o protagonista dizer o quanto estava sofrendo, ou o quanto amava, enquanto o coadjuvante soltava a voz pra comprar um sorvete ou explicar parte do enredo. Talvez por isso, no site Melhores Filmes, na categoria musicais, entre os 20 primeiros colocados, apenas 3 foram realizados depois de 80. 

Nessa década, eu já sabia que parte dos filmes musicais vinham dos musicais da Broadway. Não sei porque, mas tenho a impressão que dizer que vai ver um musical da Broadway soa mais pretencioso do que dizer que viu um musical da Broadway. Acho que antes de ir, a pessoa vai mais pela obrigação, afinal a Broadway é o destino quase certo dos brasileiros adultos que querem se divertir nos Estados Unidos, mas que acham que passaram da idade de tirar fotos com o Mickey e de gritarem numa montanha-russa. A pessoa vai mais porque está no roteiro, porque os amigos vão, porque os que não vão perguntam se ele vai. Mas depois de assistir a um musical, não é raro as pessoas falarem sobre isso com um brilho nos olhos e com verdadeira estupefação sobre o que viram. Fica patente que foi diversão genuína e não aquele dizer que gostou porque é chic, é cult ou sei lá o quê. Não é como nas óperas, que deve ser a mãe dos musicais. Não consigo imaginar alguém, fora uns poucos iniciados, que saia de uma ópera com essa sensação de divertimento e encantamento. Acho que, mesmo quem ache uma ópera chata, não vai ter coragem de dizer.

Com os filmes musicais isso não acontece e não são poucas as pessoas que revelam não gostar desse gênero. Algumas por terem a mesma visão que eu tinha quando criança, outras por uma questão de gosto, mesmo, esse tema que sabidamente não devemos, mas insistimos em discutir.

Recentemente dois filmes musicais resgataram pra mim o efeito dos musicais antigos. Hairspray, que na verdade é uma refilmagem, traz no elenco John Travolta, cujo primeiro sucesso foi  justamente o musical Os Embalos de Sábado à Noite. Apesar de ter como mote um concurso de dança, Hairspray possui aquela magia dos musicais antigos, com as personagens cantando enquanto anda na rua, briga com a mãe ou declara seu amor.

O mais recente filme é Mamma Mia. Não dá mais pra encontrar no cinema, só aguardando o DVD. Esse tem o fato interessante de construir a história sobre músicas que já existem, no caso, as músicas do ABBA. Meryl Streep dá um verdadeiro show e parece que a música The Winner Takes It All foi feita praquela cena. 

Por mais que a gente pense que a vida em um musical parece ser muito mais simples, não parece admissível que a gente suba as escadas do prédio ao som de The Sound of The Music (de A Noviça Rebelde), se declarar usando All I Ask of You (de O Fantasma da Ópera) ou fazer as compras no supermercado cantando Money, Money (de Cabaret). Mas que tem dias que dá vontade, dá.


3 comentários:

  1. Bom, eu não gosto de musicais. Alguns fogem à regra, como o Mamma Mia (que eu adoreeeei e a Meryl Strep tá ótima!). Mas me incomoda muito o fato de uma pessoa estar conversando com outra e, de repente, como que tomado por um espírito das trevas ou apenas um surto psicótico a pessoa começa a cantar e dançar. Todos que estão na cena param de fazer o que quer que seja e acompanham a pessoa, meio que numa hipnose grupal... Tenho medo!

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  2. É isso aê mano velho, é muito highschool Musical na veia, valeu?

    Compartilho inteiramente de seus comentários e acrescento que quis chorar e me jogar na janela quando assisti Dançando no Escuro. POr mais que eu sentisse falta de um bom musical, ver björk cantar durante 2 horas foi demais para meu estômago.

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  3. Pois é... Eu adoro musicais... Mas isso tu já sbaia, né? Beeeeeeeeeeeijos
    PS - Allan tem problemas.

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Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...