segunda-feira, 5 de maio de 2008

É manso e não faz pirraça, mas quando a carcaça ameaça rachar...

Fui na fonte ler as declarações do coordenador do curso de medicina da UFBA, Antonio Dantas. Devido à repercussão do assunto, acho pertinente, antes de mais nada, ler tudo que foi dito na Folha On Line de 30/04/2008. Como o acesso é só para assinantes, segue o texto. Não sei se houve declaração maior na edição impressa, mas por tudo que li por aí, esse é o texto original. Meus comentários seguem depois.

Na BA, coordenador atribui resultado a "baixo QI dos baianos"
RENATA BAPTISTA

DA AGÊNCIA FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para o coordenador do curso de medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Antônio Dantas, 69, o baixo rendimento dos alunos da faculdade no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) se deve ao "baixo QI [quociente de inteligência] dos baianos".
Os alunos de medicina da UFBA obtiveram conceito dois no exame. "Se não houve boicote dos estudantes, o que não acredito, o resultado mostra a baixa inteligência dos alunos."
Para Dantas, que é baiano, o corpo docente da faculdade é qualificado e não seria justificativa para o mau resultado no exame. O coordenador disse que o suposto baixo QI dos baianos é hereditário e verificado "por quem convive [com pessoas nascidas na Bahia]".
"O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria", afirmou, ressalvando que há exceções a sua regra.
Questionado se já foi alvo de críticas, Dantas disse que é "franco" e que "reconhece a limitação dos que o cercam". Ele afirmou que não foi notificado pelo MEC sobre os resultados e que vai analisar os erros dos alunos assim que recebê-los.
A diretora da Faculdade de Medicina da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Rosana Vilela, disse que uma possível explicação para o baixo rendimento dos alunos de medicina (conceito dois) foi a mudança no currículo em 2006.
"A nota [do Enade] é construída basicamente em cima da nota do concluinte, que é o aluno do currículo antigo, sendo que a prova é feita baseada nas novas diretrizes que norteiam o currículo novo", disse.
A UFPA (Universidade Federal do Pará) -que recebeu conceito dois- informou, em nota, que só se pronunciará sobre a avaliação quando for notificada. Na UFAM (Universidade Federal do Amazonas), ninguém foi localizado para comentar a nota do Enade.

Boicote
Para Arquimedes Ciloni, presidente da Andifes (associação que representa os reitores das universidades federais), é provável que o desempenho ruim de quatro cursos de medicina de universidades federais no Enade seja resultado de um boicote dos estudantes.
"Chama a minha atenção a situação da UFBA, que tem condições de oferta de ótima qualidade", afirmou.
Ele citou ainda o fato de a universidade ser considerada tradicional -ela abriga o primeiro curso de medicina criado no Brasil, no ano de 1808. Para Ciloni, embora não seja um fator decisivo para o desempenho dos estudantes, um dos maiores problemas dos cursos de medicina das instituições federais hoje é a dívida dos hospitais universitários.
O débito -que, segundo ele, já soma R$ 450 milhões- dificulta a modernização dos equipamentos, disse. A Folha procurou a Anup (Associação Nacional das Universidades Particulares), mas ninguém ligou de volta até o fechamento desta edição.


Claro que houve revolta e grita geral. Pra começo de conversa, um professor usar conceitos como "burro" e "baixo QI", mostra o despreparo de muitos dos educadores que por aí estão. O tal quociente de inteligência tem sido contestado continuamente por estudiosos da área. E chamar alguém de burro, num momento de raiva ou diante de um determinado ato de estupidez, pode até ser entendível, apesar de deselegante, mas classificar alguém assim, ainda mais com base no local de seu nascimento é, no mínimo, burrice.

O tal professor (?) aponta como "provas" da burrice do baiano o fato de tocar um instrumento com uma corda só. Ok. Alguém, por favor, dê um berimbau ao senhor Dantas e peça que ele toque. Mas que toque bem, senão provará que não tem inteligência para tocar sequer um instrumento de uma corda, que muitos baianos que nunca passaram por sua faculdade fazem com tanta maestria. Pra mim, esse simples gesto, sob câmeras de TV, encerraria a questão pro grande público, deixando o resto para a esfera administrativa da UFBA.

Ao invés disso, arma-se um verdadeiro circo. Dizem que as afirmações do professor são racistas. Não são. Pelo menos não essas verbalizadas na Folha. Baiano não é raça. Ele ofendeu os baianos, todos os baianos, desde os índios de Porto Seguro aos branquelos assim tidos pelo acaso da genética.

Dizem que as idéias do professor são "nazistas", até o compararam a Hitler. Muita calma nessa hora, que o discurso perde o foco e cai no ridículo por causa desses exageros. Em primeiro lugar o professor não inisnuou que se matassem os baianos. Apenas expressou sua, a meu ver equivocada, opinião acerca da carga genética dos baianos. Em segundo lugar, a idéia de que: (gene bom) + (gene bom) = (gene de bom a ótimo) é defendido por muita gente boa sem que sejam nazistas. Afinal, a pesquisa toda nesse mapeamento de DNA é pra quê? Vai me dizer sinceramente que se gasta milhões de dólares nesse troço de DNA só pra quando o bebê nascer a gente ficar sabendo que ele está propenso a isso e àquilo e que pode morrer daquilo outro? Lógico que não. É forte a tendência de saber de antemão as predisposições genéticas de um casal e reduzir as chances de um filho com problema. O que ninguém, em sã consciência, pode sugerir é que se extermine determinados indivíduos por sua carga genética "inferior".

Mas vejam bem, estou falando tudo isso, unicamente do texto que eu pude ler. Dizem os resenhistas que na Bandnews ele falou que o baixo desempenho é dos alunos cotistas e que a música do Olodum é barulho. Como não é divulgado o resultado individual, o professor demonstra preconceito com os alunos cotistas, a menos que comprove que eles realmente tem um desempenho inferior à média da faculdade. A UFBA contesta, demonstrando os cotistas tem ficado acima da média. Nesse ponto, segundo sites que comentam a entrevista na Bandnews, o professor Dantas duvida desse resultado dizendo que ele pode ser manipulado. Aí fica difícil. Se o cotista se sai melhor em um determinado teste é manipulação, se o baiano se saí pior em outro teste é porque é burro e deve ter sido os cotistas???!!! Se realmente essa entrevista da Bandnews for assim, o cara é mais imbecil do que eu pensei.

Só acho que a crucificação do professor não resolve o problema. O foco principal é que a faculdade de medicina de UFBA teve um péssimo desempenho no Enade e que um sujeito que chegou ao cargo de coordenador de curso é incapaz de enxergar as deficiências de escola e tem idéias atrasadas sobre conhecimento, educação, cultura. Que tem baiano burro culpado nessa história, é certo, mas acho que não estão na direção em que o Sr. Dantas lança suas acusações.

Um comentário:

  1. Lúcido o seu comentário, como sempre. O que eu mais gostaria de ver era o simpático tocando berimbau Bene jogando capoeira! By the way, eu vi a entrevista da Band News. Quanto ao Olodum, acho que ele está certo. Ninguém é obrigado a gostar. Como eu não gosto de heavy metal, porque ele tem que gostar do Olodum? Ele precisa sim, é aprender a se expressar!Beijos KKKKKKK

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