domingo, 2 de março de 2008

Cena de horror urbano

Noite. Um homem sozinho num posto de gasolina. Um carro vem em sua direção e o atropela. Corta a cena. Close na cara do homem caído no chão virando a cabeça de um lado pro outro. Abre a câmera e revela-se que as rodas do carro ainda giram sobre seu peito. Corta pro motorista tentando acelerar para passar por cima do homem, fazendo cair óleo quente sobre a vítima. Não consegue fugir com o carro.

A cena, que poderia ser do filme "Cristine, O Carro Assassino", foi real. Mas o quase assassino, por enquanto, chama-se Caio Meneghetti Fleury Lombardi. "Por enquanto" porque, se não foi dessa vez, oportunidades não lhe faltarão. Oportunidades proporcionadas por essa sociedade que se acha democrática e justa, mas que as instituições insistem em desmentir. E se as instituições não são democráticas e justas, por que a sociedade não consegue mudá-las? Ou porque não é democrática, ou porque não é justa.

O fato é que esse marginal, apesar de estar dirigindo bêbado, e portando 6 (seis) frascos de lança-perfume (e quem conhece sabe que isso dá pra brincar o carnaval de Salvador com a galera), foi liberado pelo delegado com a seguinte justificativa: “O rapaz estava em um carro bom e é de uma família boa.”

Palmas pro delegado Alexandre Daur Filho. Prêmio sinceridade do ano. O delegado disse, com todas as letras, o que muita gente pensa e como muita gente age, sob diversos pretextos: "é réu primário; não há provas, apenas indícios; todos são inocentes até que se prove contrário; não oferece risco à sociedade". Nada disso. O real motivo desse mostro não ter ficado detido é porque é de família boa e tem carro bom, o que se traduz em é rico... e que ninguém se engane, ser branco não atrapalhou em nada a decisão do delegado.

Imagine agora um negro, dirigindo um Uno Mille num dia de chuva e, devido à falta de visibilidade, atropelasse, digamos, um filho de um delegado de uns 5 anos que se soltou da mão dos pais e repentinamente atravessou aquela rua. Uma fatalidade?! Quem acredita que o motorista seria liberado tão fácil e rapidamente quanto o "estudante de direito" acima citado?

A imprensa, apesar de querer destacar o horror, também não esconde sua tendência a usar dois pesos e duas medidas. Trata o motorista como "o estudante de direito", apesar de, na prática ele sequer ter começado a estudar direito, estando apenas matriculado na instituição. Por outro lado, ele responde por tráfico de drogas, então por que não chamá-lo, como se refere a qualquer negro pobre que é preso como "suspeito" pela polícia, de TRAFICANTE?

Quanto à sociedade em geral... basta dizer que existe a comunidade no orkut denominada Caio Menegethi, o injustiçado, com 73 membro.

Brasil, mostra sua cara!



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Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...