domingo, 27 de janeiro de 2008

Tempos modernos

Antigamente as pessoas guardavam suas riquezas em casa. Não era uma boa idéia, se você pensar bem. Afinal, atrair para sua família a atenção de ladrões e salteadores não é algo muito sensato. Mas era o que se podia fazer. Aumentar a segurança das casas não resolvia, porque as pessoas ainda tinham que sair para usar suas riquezas.

O jeito foi criar os bancos. O dinheiro fica lá, com segurança (e no seguro) e as pessoas andavam na rua só com o necessário para aquelas despesas. Precisando mais, ia ao banco. Isso deixou pros ladrões duas alternativas: ou arriscar um assalto a banco, ou assaltar a riqueza das pessoas na rua, a prestação. Assalta, ela vai no banco tira mais, assalta de novo, ela vai no banco, assalta mais... Uma trabalheira. Fora que como os bancos também roubam com as taxas, esse dinheiro se consome rápido.

Aí criaram os cheques. A pessoa não anda com o dinheiro, mas com o cheque. O dinheiro fica no banco e as pessoas pagam as coisas com o cheque. A primeira grande falha é que pra cada cheque passado tem que ter o valor equivalente em dinheiro no banco. Muita gente não entendeu isso e age como se ao receber o talão de cheques você ganhasse o dom de fabricar dinheiro. Depois, qualquer pessoa pode roubar seu talão e passar cheques em seu nome. Sustar um cheque e pagar todas as taxas decorrentes da devolução dele é mais caro do que deixar o bandido esvaziar sua conta. E tem uma coisa fascinante, apesar de a assinatura no cheque ter que corresponder à assinatura do cartão de autógrafos do banco, nunca, nunquinha, eu soube de alguém que teve cheque roubado e devolvido por causa de divergência na assinatura. Mas ai de você se, durante uma gripe, ou num momento de preguiça, fizer sua própria assinatura de maneira um pouquinho diferente do tal cartão de autógrafo!

Depois do cheque, inventaram o cartão eletrônico e a senha. Porque a senha é pessoal e intransferível. Só quem sabe é você. E seu filho. E o boy da empresa pra quem você pediu um favor de olhar seu saldo. E a caixa do mercado. E o garçom. E o frentista. E esse sujeito que está atrás da fila do caixa eletrônico olhando por seu ombro.

- ‘Rumbora’ rapá, entra no carro, senão eu atiro.

- Mas que é isso?

- Isso é seqüestro relâmpago, sabe o que é não? ‘Rumbora’, toca pro próximo caixa eletrônico. Qual é o banco, xá ver aqui... Bankboston.., que porra é essa? Achar caixa eletrônico dessa merda é difícil. Que porra que te deu de abrir conta nesse banco, otário? Ahhhhhhhhhhh, esse sim... Bradesco. Olha um ali, encosta, encosta.

- Mas... olha, eu só saí pra comprar um reme...

- Vai, bota o cartão aí e insere a senha...

- Mas é isso, esse carro, os cartões, é tudo de minha mulher... eu peguei o carro dela pra comprar um reméd...

- Cala boca, prego, vou te mandar bala. Tu quer dizer que não sabe a senha de tua mulé? Qualé mermão? Tu é otário ou corno? Qualé o marido que não sabe a senha da mulé?

- Não. Eu sei... quer dizer acho que sei... eu nunca precisei usar mas ela me disse uma vez... ela usou um número conhecido pra lembrar, eu só não lembro de que era.

- Mermão, puxa pela lembrança senão tu come chumbo. Tô cum pressa. Era o número do telefone, não? Bota aí.

- Deu erro... não... era outra coisa... o que era mesmo?

- Rumbora mermão. Não era a placa do carro ? Tenta lembrar, tenta lembrar...

- A placa do carro? Deixa eu ver... não. Deu erro e agora só tem mais uma tentativa.

- Mermão se tu errar essa porra eu te mato.

- Era uma data, eu lembro que era uma data. Ela disse que ia botar uma data pra ficar fácil de lembrar.

- Do teu aniversário?

- Não essa é a senha do internet bank

- Do aniversário dela?

- A senha do alarme de casa.

- Dos filhos. Cês tem filho?

- Tamos tentando ainda, a gente espera que esse ano consiga. Eu to fazendo tratamento pra fertilidade...

- Rapá, eu não ligo nem que tu seja broxa, que porra de data é essa? Tu só tem uma chance "praibói".

- Lembrei, agora lembrei do que ela disse.

- Então digita logo!

- Fudeu.

- Que foi mermão, tu não lembrou a porra da data, digita aí... quer morrer?

- A filhadaputa colocou a data do nosso primeiro encontro!

- Morreu, mermão!

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