Eu conto!

Domingo, um cliente de Beto ligou dizendo que tinha comprado ingressos para a peça 7 Contos. Não entendi nada, pensei que ele tivesse comprado uns ingressos e não poderia ir e agora tentava passar os ingressos. Não era nada disso. Ele comprara ingressos pra todo mundo.

Achei estranho uma pessoa comprar ingresso pruma peça pra alguém que ela nem sabia se ia pra peça. Maluquice. Eu, "de por mim", já tinha vista 7 Contos e ainda tinha uma reunião marcada naquela tarde. Beto ainda não tinha visto e topou. Liguei pra saber sobre a reunião e havia grandes chances de eu ir.

Pois fui. Mas entre sair da Casa do Comércio, ir pra casa tomar banho e ir pro Teatro Jorge Amado, acabamos chegando em cima da hora. Na entrada meu colega de trabalho, Juca, me cumprimentou. Falei com ele rapidamente, preocupado em não me atrasar mais ainda e procurando o amigo de Beto.

Encontramos, agradecemos os ingressos e entramos. Ao sentarmos nos lugares, uma surpresa. O tal sujeito tira uma máquina filmadora. Não, não era uma câmera digital que faz pequenos filmes. Era uma máquina filmadora, que filma em DVD. A peça começou e o cara tira um tripé e começa a filmar o espetáculo. Sem autorização da produção.

Meu constrangimento não poderia ser maior. Não é segredo a idéia que eu faço de direitos autorais, mas mesmo assim, respeito os espetáculos ao vivo. Fotos e pequenos trechos? Tem uma hora nos shows que a própria produção permite (geralmente no final, no BIS), mas filmar uma peça de teatro? É o fim da picada!

Ao comentarmos sobre se seria apropriado aquela atitude, o sujeito falou que faz isso em vários shows e ainda argumentou que Gilberto Gil, por acaso Ministro da Cultura, liberou que se filmassem seus shows.

Lá perto do final da peça, alguém da produção, pra meu azar: meu amigo, veio falar pra ele desligar a câmera. O que ele, graças a Deus, acatou.

Aí chegou a hora dos agradecimentos. Imaginei o que viria, pois já vi espetáculos teatrais o suficiente pra saber que Luis Miranda ia dar uma bronca. Torcia pra que esse vexame não ocorresse. E realmente não ocorreu como eu pensava. Foi muito pior. Luis Miranda mal agradeceu a presença do público e começou a baixa no sujeito. Claro, olhando na minha direção porque a criatura estava do meu lado. E claro, o pessoal das filas da frente olhava pra trás sabendo apenas que o mal-feitor estava por ali, mas sem saber quem era.
Luis MIranda termina dizendo: "Peço que você deixe a fita com a produção, porque sair daqui com ela você não vai".

O constrangimento continuou porque, enquanto todos saiam do teatro, lá ficávamos nós, deixando claro que éramos os culpados. Quando meu amigo perguntou: "a pessoa está com você". Tive que dizer um vergonhoso: "sim". Meu amigo pergunta se ele pode entregar a fita e o sujeito diz: "Claro! Mas será que eu posso falar com Luis Miranda? Quero pedir um autógrafo dele!"

Pois o sujeito foi e ficou um tempão lá. Quando já acreditávamos que ele tinha sido esquartejado, ele sai de lá, com autógrafo de Luis Miranda. Meu amigo me disse que iria levar o cd pra apagar e que o sujeito pediu que ele devolvesse pra mim. Pra mim?! Eu nem sei onde a criatura mora, não tenho telefone dele nem nada. E o cara ainda se vincula a mim?! Fiquei mais puto ainda.

Na saída, o cara de pau ainda revela que deu à produção um disco apagado, mantendo a cópia filmada consigo.

Bom, hoje é quinta-feira e meu amigo ainda não retornou minhas ligações.