terça-feira, 20 de maio de 2008

Semana da diversidade 2

Quem quiser analisar de forma correta o caso de preconceitro contra o jogeador Richarlyson precisa ler a sentença do juiz. Qualquer comentário sem ter lido o documento seria falho. Por isso fui no Consultor Jurídico e peguei a sentença.

É bom também ver o vídeo que gerou todo o problema. No Youtube, tem.

Agora um resumo dos fatos.

1 - Andaram divulgando que um jogador de um time paulista ia "sair do armário" no Fantástico.

2 - No programa de Milton Neves, indagado se o jogador que ia se assumir era do Palmeiras o dirigente responde: "Não. O Richarlyson quase foi do Palmeiras..."

3 - José Cyrillo Júnior grava um pedido de desculpas.

4 - Richarlysson entra com um pedido de danos morais. (vide sentença).

5 - O juiz dá aquela "pérola" de sentença onde diz que futebol não é para homossexuais. (vide sentença)

6 - Richarlyson diz no Fantástico que não é gay.

Cada um pode tirar a conclusão que quiser, a minha foi a seguinte, ponto a ponto:

1 - Não vale a pena comentar o que eu acho de alguém ir pra televisão fazer isso, porque está mais do que provado que tudo não passou de um boato. Na verdade, pela própria matéria do Fantástico, verifica-se que tudo começou, sim, com Richarlyson e sua dancinha em campo. As pessoas insinuaram que ele era gay e começaram os comentários de que "um jogador" iria sair do armário na Rede Globo.

2 - Não acho que o dirigente tenha tido intenção de prejudicar Richarlyson, apesar de ter sido vacilo mencionar o nome dele. Também não vi atitude homofóbica da parte dele. Como a brincadeira tinha surgido com o nome do jogador, ele respondeu naturalmente e descuidado, deixando sair o nome de Richarlyson. Na verdade, todo mundo sabia que a tal referência era com ele. O desdém que ele demonstra no vídeo é, claramente, com o fato de ter revelado o nome. Ele faz pouco caso do fato de ter dito o nome do jogador. Ou desconhece o preconceito desse país, ou pensou que como todo mundo sabia quem era não teria problemas. Sei lá. Acho que o cara foi inconseqüente, mas não ofensivo. Não creio que ele quisesse dizer "Richarlyson é gay", mas sim, "o jogador tema desse assunto é Richarlyson".

3 - O pedido de desculpas pode ou não ter sido sincero. Foi para evitar um processo por difamação.

4 - Esse é um ponto controverso. Ao dizer que sofreu dano por ser chamado de gay, Richarlyson diz que ser gay é negativo. Por outro lado, não há como negar que a sociedade discrimina (como vimos) um atleta gay. E tem o fato de Richarlyson se declarar heterossexual, o que piora tudo. Ficar com fama de gay, ainda mais não sendo, prejudica seus relacionamentos pessoais, profissionais, etc. Taí Vítor Fasano que sempre processa, ou agride fisicamente, quem o chama injustamente de gay. A questão é: imaginemos, e nesse país de cotas isso não é difícil, que alguém seja classificado como negro (ou não) e não aceite a classificação. E tivemos um caso recente de gêmeos, onde um foi considerado negro e outro, branco, pro sistema de cotas. Isso daria direito à indenização? Se alguém pedisse esse tipo de indenização, certamente seria chamado de racista. Ninguém pede indenização por ser chamado de heterossexual, então porque pedir quando é chamado de gay. Claro, não há preconceito contra heteros, mas esse pedido de indenização mostra o preconceito contra o hetero. Repito, o sujeito não falou em termos pejorativos: fulano é viado. Nem fez uma declaração para tirar o sujeito do armário, apenas comentou, de forma impensada, admito, o que os boatos contavam, que o jogador que ia se assumir era Rycharlyson.


Esse post foi escrito originalmente em 12/08/07, mas curiosamente esqueci de publicá-lo na época, até porque estava incompleto, queria desenvolver mais o tema e acabei esquecendo. Não sei se os links acima estão ainda ativos. Mas estão, pergunta o curioso leitor desse blog, por que ele retoma ese assunto já frio? Porque, indagante leitor, estamos na semana da diversidade sexual, porque eu não quero falar sobre Ronaldinho e porque Richarlyson volta à cena nesse link.
E ele ainda não se assumiu. Não é fantástico?!

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