domingo, 21 de janeiro de 2007

A gente não quer só comer


Quando o ensino público começou a falir, para atender aos interesses sabe-se lá de quem, a classe média optou não por defendê-lo, mas sim por colocar seus filhos em escolas particulares. Escola pública virou, assim, coisa de pobre.

Hoje a classe média se organiza pra tentar na justiça o direito de manter seus filhos na escola sem pagar. Na escola particular, que fique bem claro.

Quando o transporte público ficou inviável, a classe média preferiu arriscar nos consórcios e financiamentos. Afinal, ela decidiu, ônibus é coisa de pobre.

Atualmente, a classe média se revolta com engarrafamentos e manifestações estudantis contra aumento de passagem e treme só em pensar na possibilidade de um rodízio de carros, já que o transporte público não presta.

Quando o sitema de saúde pública começou a falir, a classe média pagou por planos particulares, ou aderiu àqueles que sua empresa tinha. Acordar cedo pra pegar fila de INPS, IAPSEB, SUS é coisa de pobre.

Atualmente a classe média, estarrecida, descobre o quanto está descoberta justamente na enfermidade que precisa, e luta para não pagar os serviços prestados pelas instituições particulares de saúde. Pretende, desesperadamente, também, se manter no plano empresa, mesmo após a demissão.

Quando estacionar nas ruas da cidade ficou impraticável, e o risco de assaltos aumentou, a classe média não reclamou por mais segurança pública nem por ordenamento do uso dos espaços, mas migrou pros shopping centers, pagando mais caro pra ter estacionamento, conforto e segurança. Afinal, comprar no calçadão é coisa pra pobre.

Hoje a classe média reclama o direito de não pagar pelo estacionamento no shopping e torce o nariz com as cenas de pedintes e vendedores de chocolate dentro do maior shopping de Salvador.

A classe média paga impostos e consome mais que a classe baixa. É mais esclarecida e formadora de opinião, tem, portanto, mais capacidade de se organizar e reinvidicar do governo as melhorias em transporte, saúde, segurança, etc.

Mas a classe média não quer se identificar com problemas de pobre. A classe média está querendo é TV de Plasma. E lamenta não poder pagar. Será que o governo não poderia criar uma linha de crédito?

4 comentários:

  1. É, amigo. Sua lucidez não me surpreende. Mas as vezes, me assusta... É que a gente nunca para para pensar nessas coisas mais doq ue óbvias.. beijos

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  2. Perfeito, perfeito, perfeito!!

    Curto, simples, linkado... idéia coesa.

    Bom.

    Assim você me inibe de me ousar blogueiro... (rs)

    Parabéns!

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  3. Hummm... sendo plenamente consciente, me encaixo na classe média. Com/sem vergonha de dizer.

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  4. clap clap clap... Vou elogiar não, que o que é demais, abunda...

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Que PI é essa?

Salvador sempre teve um público cativo de teatro que lota salas. Pelo menos, se estivermos falando de peças com atores globais. Não importa...