Página Virada

Quando eu era adolescente não tinha internet, nem DVD. Na verdade nem tinha vídeo cassete ainda. Por isso era difícil adolescente entrar em contato com pornografia. As revistas pornôs eram embaladas em saco plástico e tinham uma tarja preta na capa. De vez em quando alguém conseguia uma dessas revistas e ela circulava.

Apesar desses cuidados todos, os adolescentes nunca foram santos em época alguma. E uma das provas disso eram as músicas que cantávamos. Coisas lindas como:

Nabuco foi caçar
Caçar borboleta
Encontrou uma menina
Com a mão Nabuuuuuu... co foi caçar

Ou uma outra que dizia:

Cuuuuuuuuuuuuuelhinho
se eu fosse como tu
titava a mão do bolso e botava a mão no
cuuuuuuuuuuuuuuuuelhinho

Tudo lindo, maravilhoso e sem nenhuma inocência. Apesar dessa depravação toda, era difícil algum adulto falar de sexo, menstruação, ejaculação, masturbação na frente de um adolescente. A verdade é que a gente falava muita bobagem, mas tinha pouca idéia do que significava tudo isso.

Hoje as crianças tem aula de educação sexual nas escolas, conversam sobre esses assuntos com desesperados e envergonhados pais, já dormem na casa dos namorados com a permissão dos adultos e tudo o mais.

Mas mesmo no auge dos meus 35 anos, já tendo visto, ouvido e feito muitas coisas, confesso pra vocês que me senti constrangido como uma criança de 8 anos que flagra os pais fazendo orgia com a professora, o Papai Noel do shopping e a tartaruga de estimação, ao ouvir aquela senhora de 68 anos relatar que desde os 45 não precisa mais de homem, que acordou babada por causa de Roberto Carlos e que sabe muito bem colocar o convexo no côncavo.

Eu, "de por mim", acho mais incoente continuar cantando:

Teco, teleco, teco
a coisa tá ficando preta
há mais de uma semana que eu não bato uma pu...
...dera que me case logo
bem na hora da missa
dá uma cocerinha na cabeça da pi...
...ranha e peixe cobra
cobra de veneta
leva a menina pro mato
e mete o dedo na bu...
...zina do caminhão
todo mundo ouviu
quem não gostou da piada
vá pra pu...licia do Rio.

(Porque a de São Paulo até hoje não comeu ninguém)