sexta-feira, 24 de março de 2006

O pau que dá em Chico... e só nele!

Enquanto as nossas instituições democráticas protegem o sigilo bancário de Paulo Okamoto, suspeito de usar dinheiro do "valerioduto" para pagar dívidas do Presidente da República, Francenildo Santos Costa, testemunha no inquérito que envolve o Ministro da Fazenda, teve seu sigilo bancário quebrado sem nenhuma autorização da justiça, enquanto estava na sede da Polícia Federal.

Toda vez que eu falo contra essa democracia em que vivemos, alguém me lembra da ditadura militar. Pois bem, sejamos provocativos: o sr. Francenildo estava dentro da Polícia Federal e teve seus direitos violados, até agora não se sabe por quem, apenas porque testemunhou algo que o governo não queria.

Os mais apressados dirão que não se tem provas contra o governo. A iniciativa poderia ser de um funcionário zeloso ao extremo no cumprimento do seu dever. Bom, até aí, esse argumento também era usado pelos militares, então já vimos que não resolve de nada.

Diriam que eu estou exagerando porque o sr. Francenildo não foi torturado, não apanhou, não levou choque, nem tiraram sua vida. Quero dizer que não estou diminuindo o martírio de todas as vítimas do regime militar, mas na minha opinião, o governo apenas alivia a mão nos métodos. O homem teve sua vida devassada por causa disso, descobriu-se que era bastardo, veio a público um acordo particular levando outro homem (o pai dele) ao constrangimento.

E quem pensa que tortura autorizada pelo governo acabou, está enganado. E os estudantes na UFBA? O que foi aquilo? E o cacetete nos Filhos de Gandhi a pedido da banda queridinha do governo? E o massacre da Candelária? E do Carandiru? Ahhhhhhhhh, só porque não são opositores políticos eles podem ser torturados, espancados e mortos? E a polícia forjando falso assalto para justificar a morte de um dentista? Quantas pessoas mais precisam morrer e quantos desses assassinos precisam ser absolvidos para a população começar a perceber que esses casos que se avolumam não são "exceções" nessa nossa democracia, mas que está fazendo parte do modo de agir dessas instituições, tanto quanto fazia na ditadura. É só ler o jornal para vermos as notícias de pessoas presas injustamente e o que elas sofrem nas cadeias. É só perguntar a quem trabalha numa delegacia para saber como a nossa polícia utiliza "métodos eficientíssimos" para obter confissões.

Quando falo contra essa democracia, e logo pensam que eu automaticamente defendo a ditadura, é justamente contra isso que quero falar. Contra essa polarização, contra esse maniqueísmo que coloca a democracia como um bem em si mesmo e a ditadura como um mal. Pergunte a qualquer iraquiano se ele prefere essa democracia em que ele é metralhado pelos americanos ou a ditadura de Sadam.

A ditadura militar no Brasil mudou a Constituição... a "democracia" brasileira tem feito isso toda semana, quebrando direitos adquiridos e garantias dos cidadãos. Alguém já comparou a quantidade de decretos-leis e de medidas provisórias editadas por esses regimes? Sim, os institutos são diferentes... baixar um decreto-lei custava muito menos aos cofres públicos.

Vem aí mais uma eleição. Uma enganação, na verdade. Como podemos dizer que "escolhemos" um candidato se o nosso sistema não o obriga a ser fiel sequer ao programa do partido pelo qual se candidatou? Depois de eleito ele pode mudar pra qualquer partido, ou mesmo ficar sem, livre de qualquer compromisso assumido durante a campanha. Ora, assim só tendo bola de cristal pra votar. E o eleitor, vai lá, acreditando que está numa democracia porque vota numa propaganda bem feita e porque tem o direito de reclamar por 4 anos até a nova "festa da democracia".

Sim, a classe média e politizada tem a oportunidade de falar e protestar sem apanhar, mas ainda vivemos uma democracia ateniense que atende a todos os cidadãos, mas os cidadãos não são todos.

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