O fato e a versão

Quem leu as notícias sobre Carlinhos Brown "criticando a violência", mas não ouviu o que ele disse na TV (supondo que quem tava na rua sequer prestou atenção), vai ter uma idéia errada sobre o que aconteceu.

Pra começo de conversa, as duas matérias que eu li vêm da mesma fonte: a Reuters. Ou seja, é a mesma nota reproduzida nos mínimos detalhes pelo Último Segundo, pelo Terra e pelo UOL.

A Band estava presente, mas na sua página destinada ao carnaval, na opção notícias, encontramos uma coluna social eletrônica que destaca "notícias" "importantes" como o encontro dos apresentadores da emissora na piscina do hotel. Ooooooooooh!

Mas voltemos à notícia da Reuters reproduzida pelos sites da internet. Como coloquei os links, espero que vocês leiam sobre o que estou falando, e agora vou dar a minha versão do que eu vi.

Daniela Mercury cantava e viu uma briga. Pediu pra trio parar. Reclamou com o sujeito. Perguntou se era assim que ele queria "levar a vida dele?" Se essa violência era o que "ele queria pra ele?" Aí ela pediu pro trio de Brown parar de tocar por causa da briga. Foi aí que Brown soltou a primeira: "Tem que educar o povo o ano inteiro e não apenas só sete dias por ano".

Uma frase de efeito, sem dúvida, e que faz muito sentido. Brown tem projetos sociais e pode se sentir à vontade pra falar isso, porque está fazendo a parte dele. Mas Daniela também. Uma coisa não invalida outra. Mas foi válido o protesto do cantor, na minha opinião.

O que as notícias confundem é o que veio depois. As notas emendam esse episódio com o discurso do cantor, que inclusive chamou o Ministro à responsabilidade, como se Brown estivesse protestando contra a violência e a falta de educação do povo.

A briga que Daniela viu e que a fez parar o trio foi essa.

A polícia chegou, aparentemente a confusão passou e a música continuou. O discurso seguinte de Brown não foi feito na hora da briga, mas alguns minutos depois quando a polícia prendia uma pessoa. Hoje, acredito que tenha sido o agressor que está na reportagem acima. Brown criticou que a polícia tava prendendo o sujeito! A princípio pensei que ele reclama de algum ato de violência por parte dos policiais. Mas Brown gritava: "Olha, aqui. Olha os policiais prendendo um cara! Você está sendo preso por que, meu irmão? O que você tava fazendo? Ele tava fugindo?! Eu não vi ele fugindo de nada! Isso tem que acabar. Isso está errado, sr. Ministro!"

E aí continuou com seu discurso, que pode ser lido nas notinhas, mas não contra a violência e, sim, contra a polícia.

A princípio não entendi como Brown, de cima do trio, poderia avaliar se o cara que estava sendo preso estava fugindo ou não, tinha atitude suspetia ou não. No meu entender ele estava desacreditando o trabalho da polícia. E tinha uma boa razão pra isso. Logo me lembrei do carnaval do ano passado, quando ele foi preso.

O mais engraçado foi que, enquanto essas palavras eram proferidas, a câmera flagrou um sujeito tentando subir na escada do trio de Brown e sendo detido pelos seguranças do bloco, com delicadeza semelhante a que eu imagino que os policiais tenham reservado ao suspeito da agressão.

A questão não é opinar sobre as motivações de Brown, nem se indagar por que ele só começou os protestos sobre o carnaval do ano passado pra cá, quando o comando da cidade deixou de pertencer ao grupo político que o apadrinha. Talvez não caibam às agências de notícias tecer comentários sobre o fato de Brown fazer parte dessa elite que ganha muito dinheiro no carnaval e que seu "Camarote Andante" só é gratuito porque o ministério Público entrou com uma ação contra ele no primeiro ano, quando ele recebeu dinheiro público (através de incentivos fiscais) , mas seu trio se prestava a uma promoção de uma empresa de celular, onde só tinha acesso quem comprasse o aparelho.

O que se espera de uma agência de notícias, no mínimo, é que transcreva as coisas o mais fielmente possível. Comentários, elocubrações e deduções, a gente faz blogs afora.

Comentários

  1. Caro amigo!!

    O texto (o conteúdo) é perfeito. O tom também me encanta. Já tomei a liberdade de copiar e colar para remeter à alguns... ihhhh! Pode!? (rs)

    Esse é tom. Tom com conteúdo. Nada muito engraçado nem muito sério... e tudo muito, muito contundente. Original.

    Às vezes penso: "Pra que peste ele quer que eu crie um blog?! Não precisa! Tem o dele!" (rs)

    Axé!

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