sábado, 23 de julho de 2011

Seria?

Vendo os comentários no Facebook sobre a morte de Amy Winehouse, percebo que é inevitável relacionar a curta carreira com o estilo de vida dela. Apesar de não ter sido divulgada a causa mortis, ninguém cogita que seu falecimento tenha outra causa, senão o resultado do consumo excessivo de álcool e drogas. Nem eu, diga-se de passagem.
Mas entre os comentários que consideram a morte o castigo inevitável pela vida pregressa e aqueles que ponderam que ela seria uma artista melhor, sou obrigado a discordar de ambos.
Não acredito em castigos, ou acontecimento "bem feito". Acredito, sim, que as ações têm consequências e as pessoas que abusam de entorpecentes têm a probabilidade maior de morrerem prematuramente. Mas se eu acreditasse em castigo, em merecimento, teria que questionar porque criancinhas morrem sufocadas em golfadas.
De outro lado, questiono quem pondera que ela poderia ter uma vida melhor, artisticamente falando, se não usasse drogas.
Sendo claro, não estou dizendo que drogas ajudem a aflorar o lado artístico de todas as pessoas. Mas, indubitavelmente, alguns artistas apenas assim o são porque possuem uma percepção do mundo diferente das demais pessoas. E esse modo de ver diferente lhes causa as tragédias pessoais.
Pintores depressivos, escritores com relacionamentos trágicos e artistas plásticos temperamentais não são raros no mundo.
Ver, sentir e vivenciar o que ninguém mais percebe possibilita que certas pessoas se expressem de maneira única na arte, mas também é um farto muito grande tentar viver num mundo de intolerância e de incompreensão. E quando uma dessas pessoas se vê no centro da atenção da mídia, o que era difícil deve se tornar insuportável.
Como todo mundo só se preocupa em analisar o comportamento dela e nunca vi depoimentos mais detalhados sobre a personalidade dela, não sei se Amy Winehouse foi levada a usar drogas porque sentia um vazio ou porque se sentia cheia demais. Cheia de sentimentos, sensações, cores e emoções sem ter com quem compartilhar.
Mas ouso dizer que sem essa característica ela não seria a artista que foi.
Então, ou você gosta dela assim ou não. Não dá pra dividir o ser humano. Esse todo foi Amy Winehouse.



Pelo iPhone

Um comentário:

  1. Benício Golfinho30/07/2011, 09:55

    O discurso moralizante é uma máquina de pensamento. Ou seja, é um processador que interpreta fatos conforme postulados anteriormente dados. Assim, pouco importa a conclusão se a gente parte da premissa de que há um modo certo e um modo errado de agir... porque é evidente que a reta conduta ou o vício são determinados como tal a partir do resultado, o que é uma contradição em termos.
    Se ela morreu em razão disto ou daquilo isso é algo simplesmente impossível de se averiguar. Porque não temos a opção do "ela NÃO morreu por isso ou aquilo outro".
    Pensar em sentido contrário é muito mais uma implicação da crença em nos imperativos éticos ocidentais (Deus?) do que uma evidência destes.
    Não existe a condicional "se" na História. Existe o verbo "ser".

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