Desde ontem podemos escrever errado, dentro da lei. Se alguém (ou é alguem?) estranhar a falta de acentuação, podemos dizer que é por causa da reforma, que ninguém/ninguem mais saberá se tá/ta certou ou errado. O assunto foi notícia (esse eu sei que continua) até em jornal de Portugal, com direito a leitor falando mal dos brasileiros e tudo.
O objetivo dessa reforma é unificar a língua/lingua portuguesa. Todos os países/paises que falam português/portugues assinaram o acordo, mas só o Brasil o implantou. Além disso, conforme o Guia Prático da Nova Ortografia Portuguesa Michaelis, o acordo ortográfico não elimina todas as diferenças observadas nos países que têm/tem a língua/lingua portuguesa como idioma oficial. Então pra que zorra estamos mudando? A resposta mais óbvia que vem à minha cabeça é: para vender livros. Principalmente gramática! E pra infernizar a vida de quem vai fazer concurso público.
As regras sobre o que passa a valer ainda são confusas. No guia do Estadão, por exemplo, encontrei que não se acentuam mais as palavras apazigúe, averigúe, enxagúe. Mas no guia Michaelis diz que esse acento pode ou não haver a depender da pronúncia. Uma comunidade do orkut fala sobre o til em manhãzinha, pãezinhos, etc., mas não achei menção a isso em outros lugares ainda.
De concreto, mesmo, só os edifícios e a morte do trema. Ah! O saudoso trema. Qual o problema com ele, afinal? Por que implicar com o coitado? Era tão simples, nas construções com "que", "qui", "gue" e "gui", se o U fosse pronunciado, levava trema. Qual a dificuldade com isso, meu deus?
Se era pra eliminar alguma coisa, eliminasse o acento grave. Sabe qual é? Aquele "`". Esse mesmo, o miserável acento da crase. Quem não é pernósticos sabe que não se diz: "ele foi a-a praia". Diz-se simples e corretamente: "Ele foi a praia". Então pra que indicar, através da grafia que ali tem um artigo e uma preposição (ou um pronome, no caso de "àquele")? Além do mais, quem nesse país sabe as regras da crase? Com certeza, não são os publicitários que criam os outdoors, como um que tinha no Bonocô e indicava que a Revisa está "à 300 m". Ou o pessoal que vende comida "à quilo", ou entrega, seja lá o que for, "à domicílio". Em resumo, a crase só serve pra fazer muita gente que se acha letrada passar vexame. Quem iria lamentar o fim da crase? Aposto que seria até feriado nacional, caso ela morresse.
Mas ao invés disso, eles eliminaram o nosso trema. Imagine o sofrimento da palavra "qüinqüênio", que perdeu de cara, dois tremas, e só não perdeu o circunflexo porque não conseguiram carregar tudo.
Apesar da grandiloqüência dos lingüistas envolvidos nessa empreitada, a conseqüência desse projeto de ambígüo propósito é a argüição de obliqüidade nas explanações e a insatisfação com a exigüidade do tempo para adaptação. A transgressão freqüente dessas regras fará com que o acordo míngüe na prática, ficando restrito aos documentos oficiais. Desde a antigüidade há problemas com a grafia das palavras, mas não dá pra agüentar uma reforma imposta por lei. Mais que isso não posso fazer pelo trema, a não ser que me mude pra Anhangüera!
Aliás, há mais uma coisa que podemos fazer. Vamos dar o troco a esse governo. Como a reforma ortográfica é lei, desde o dia primeiro todas as notas de cinqüenta reais estão fora-da-lei, o que significa que não podem circular oficialmente. Por isso, vamos boicotar toda nota de R$ 50,00 que tenha o trema, exigindo que nos seja dada uma nova, de acordo com a reforma ortográfica do governo. Ou eles nos devolvem o trema, ou a economia desse país vai pro brejo.
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sensacional!
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