Sem compromisso emocional, só financeiro

Contratei um "marido de aluguel".
Como tudo de bom que se encontra hoje, foi pela internet. Marido de aluguel é o nome que alguém bom de marketing usou pra designar um "faz-tudo". Um cara que faz pequenos serviços que um homem, um pouco mais cioso de sua masculinidade do que eu, não deixaria nenhum outro sujeito fazer em sua casa. Claro que sairia tudo uma porcaria, mas o sujeito ficaria com seus brios intactos.

Não tenho essas bobagens. E me falta não só a vocação (como a de meu amigo Alec, cujo sonho de consumo é uma furadeira, pregos e uma parede pra "brincar), como o talento. Por isso não tive problemas em contratar alguém com (suposta) habilidade que fizesse isso por mim. E lá fui eu pra internet.

Encontrei o anúncio de "Ronalso" ou "Ronaldao44", esse último nick gerando dúvidas para um anúncio intitulado "marido de aluguel". Mandei um e-mail, expliquei tudo que precisava ser feito (conserto da caixa de descarga do banheiro de empregada, torneira da lavanderia vazando, troca de resistência e reparo na instalação do chuveiro elétrico e instalação de um fogão), perguntei se ele podia comprar as peças que precisava (podia), pedi orçamento (R$ 30,00 a hora), e combinai para terça-feira às 11:00 horas.

Como bom marido, ele chegou atrasado em casa e com uma desculpa qualquer (ônibus demorava pra passar), mas ao contrário da maioria, teve o cuidado de ligar antes pra dizer que ia atrasar.

Ao final da tarde o serviço estava feito e ele já tinha ido embora. Não sei nem a cara dele. Beleza. Olhei a carga de descarga, estava ok. A torneira também. O fogão tava direitinho. Só faltava o chuveiro, de todos o único serviço que eu sei fazer bem, porque gosto de instalação elétrica. Nem sei bem porque gosto. Talvez seja porque fica em contato com os eletrônicos. E eletrônicos eu adoro.

Pois justamente no chuveiro o marido de aluguel fez mal feito. Tava tomando meu banho quente quando desabou tudo: tampo do chuveiro, cone protetor e resistência. Notei que a borracha de vedação tinha desaparecido (não é porque eu contrato um marido de aluguel que sou um completo leigo no assunto). Não sei se foi o Ronaldao (ou Ronalso) quem perdeu a borracha ou se ela já tava sumida antes. De qualquer forma, mandei um e-mail pro maridão de aluguel, que não respondeu. Estamos divorciados, então. Comprei nova resistência, que queimou em dois banhos. Ou seja, tem algo errado com a instalação elétrica, eu acho.

Com o fogão, também tive problemas. Mas aí a culpa não foi do marido de aluguel. Eu não conseguia acender o forno. Pensei que tinha algum macete e abri a tampa da parte de cima. Hoje em dia os fogões vem com essas frescuradas, sei lá porquê. Nada. Procurei o manual, sem sucesso. Nilza, uma espécie de mãe de aluguel, tem aquele tom, que só as mães tem, de arrumar tudo de forma que você não encontre.

O jeito foi procurar na internet. Se eu achei um marido de aluguel, quanto mais um manual de fogão. Achei Laurinha, on line no MSN, que me explicou que eu deveria pressionar a válvula, apertar o botão de ligar e manter a válvula por 10 segundos acionada, senão ele apaga. Fui lá e consegui acender. Eu questionei pra quê aquela bobagem e ela disse que era pra minha segurança. Retruquei que sempre usei forno com segurança, que forno não é uma usina nuclear, que nunca teve grandes ciências. Aquelas invenções é que atrapalham tudo. Ao que parece tem a ver com crianças, sempre elas. Então que se fizessem aparelhos para quem tem e para quem não tem criança em casa. Os primeiros mais complicados, cheios de travas e outros empecilhos e os últimos, normais, que qualquer pessoa com bom senso pode usar direito.

Comecei o dia com um marido de aluguel e terminei sendo salvo por uma esposa emprestada. Mas que não me arranjem, nunca, uma criança doada, vendida, alugada...