Pra quem não tem Facebook ou não acessou as notícias pela internet nessa semana, o resumo da ópera: a linha laranja do metrô de São Paulo previa uma estação no bairro de Higienópolis, bairro nobre da capital paulista. Os moradores de lá ficaram insatisfeitos porque o metrô iria trazer uma "gente diferenciada" ao bairro, segundo eles. Organizaram um abaixo assinado e a prefeitura prontamente atendeu.
Ao saber disso, a população se revoltou e, pelo Facebook, de brincadeira, alguns internautas convocaram todos para o "churrascão da gente diferenciada". Mais de 56.000 internautas confirmaram presença o que deixou de cabelos em pé os moradores de Higienópolis e preocupados os organizadores do evento, que chegaram a cancelá-lo, com medo de haver algum problema de segurança.
As notícias dessa tarde dão conta de cerca de 300 pessoas na manifestação.
Pois bem, agora as minhas humildes observações.
Independente de quais sejam as intenções dos moradores de Higienópolis em querer impedir a instalação do metrô, é preciso dizer que eles têm direito de não concordar com a decisão da prefeitura. O meio de protesto dos moradores também foi legítimo. Fizeram um abaixo assinado e não subornaram ninguém, não pagaram propina, nem nada, ao que se sabe. Pode ser que o alto IPTU que eles pagam tenha influenciado, mas até aí, também é justo. Ora, os preços dos imóveis são calculados de acordo com os benefícios que a área possui.
Por fim, pra quem acha que isso é "coisa de paulista", convém lembrar que aqui em Salvador, os moradores do Caminho das Árvores se insurgiram contra a colocação de uma delegacia no bairro.
Quando surgiu a linha Beiru-Barra, a reação dos moradores não foi muito diferente dessa que vemos hoje.
Mas os ricos têm o direito de se manifestar e não é obrigação deles pensar no bem estar dos pobres. Isso é obrigação do Estado.
No que diz respeito à prefeitura, essa, sim, teria que ver os dois lados interessados. Teria que pesar o conforto e a tranquilidade dos moradores do bairro com a necessidade e comodidade dos usuários do metrô. Teria que ver o alto preço do IPTU pago pelos ricos com o compromisso social que é dever do Estado.
Por fim, a população que usa o metrô também fez o que deveria: denunciou e ainda fez uma manifestação bem humorada sobre o assunto.
Acho que poderia evitar excessos. Piadas racistas (boa parte dos moradores de Higienópolis é judaíca) e agressões são desnecessários.
Defendo o direito dos ricos de não gostar de pobres. Isso é um julgamento moral e ninguém tem nada a ver com isso. Eu posso dizer que não gostaria que em meu bairro morassem pessoas que ouvem pagode ou funk. É meu direito. Enquanto eles procurarem defender esse ponto de vista com os intrumentos que também diposmos (abaixo assinado, manifestação, solicitação às autoridades), direito deles. E o Estado até poderia atender esse direito, evitar facilidades do acesso de pobres aos bairros ricos, ou funkeiros morando perto de mim, desde que isso não atingisse o direito dos pobres e dos funkeiros. Ora, se eu não quisesse um funkeiro no prédio ao lado, a prefeitura pudesse mudar ele pra outro bairro e ele achasse isso legal e quisesse ir, seria ótimo! Da mesma forma, se os pobres não tivessem a menor necessidade e vontade de circular por aquela área nobre, tudo bem, não se colocasse uma estação ali. Mas a vida não é tão simples e os dois lados precisam ser respeitados. Provavelmente esse pessoal que ouve pagode gosta desse bairro aqui tanto quanto eu, e os pobres precisam ir ao bairro dos ricos, nem que seja pra trabalhar. Sem contar que tem serviços que só tem lá. Então a vontade de um (quer seja fruto de preconceito, quer seja decorrente de um incômodo) não pode simplesmente sobrepujar a do outro.
De ambos os lados, o correto é se manifestar e exigir solução das autoridades. No caso do metrô, a saída é fazer a estação, mas garantir a paz e a tranquilidade que o bairro de Higienópolis tanto preza e tem direito. Não há porque pensar que são coisas excludentes.
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Odeio gente diferenciada..esse povinho que gosta de comer rabada e tripa frita..afe..;-)
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